Dinovaldo Gilioli, autor dos
livros Sindicato e Cultura (Sinergia/Editora Insular) e Cem poemas (Editora da
UFSC), entre outros.
A vida passa rápido demais, às
vezes como um voo rasante. E, a morte, quanto tempo leva? O poeta Manoel de
Barros se foi há um ano. Quantos se lembram, além dos mais próximos?
A deslumbrante poesia de Manoel,
que amava as coisas simples, nos remetia – quase sempre, à transcendência. Ele
falava da fugacidade da vida, como quem sabia que viemos e voltaremos como um
cisco. Na sua escrita direta, sem entrelinhas, botava mais que pingos nos is.
Sem seguir modismos, fazia do poema um canto eterno.
Ele sabia sabiamente que o lugar
da poesia é qualquer tempo e espaço. Manoel se encantava com um inseto, e dele
fazia sua matéria poética. No mundo em que vivemos, quanto vale as coisas simples?
Para o poeta de palavras
encantatórias e atemorizantes, o cu de uma formiga era mais importante que uma
usina nuclear. Criticava criativamente os que endeusam a tecnologia, e não
enxergam um palmo adiante.
Se foi Manoel como a vida queria,
encharcado de poesia por todos os poros. Translucido, feito vagalume, vagueia e
alumia outros lugares. Com seu jeito faceiro de dizer, na lata, o que pensava,
deve continuar assombrando os que fazem da vida um acúmulo de coisas
imprestáveis para o deleite da alma.
Certamente, onde estiver, se nega
a descansar em paz. A paz mórbida que não remove, e só espera a esperança.
Manoel de Barros, feito carne e osso, se dissolveu no tempo. Seus poemas,
porém, continuam ecoando feito cantar passarinheiro.
Quem saberá onde ele está agora?
Como sua poesia, em qualquer lugar que a vida respira depois da morte!
Fragmentos de Barros:
Tem horas leio avencas. Tem
horas, Proust. Ouço aves e beethovens.
As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.
Um girassol se apropriou de
Deus: foi em Van Gogh.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Escutei um perfume de sol nas águas.
Não tem altura o silêncio das pedras.
Eu queria crescer pra passarinho...
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