domingo, 27 de março de 2016

Movimentos golpistas no Brasil são financiados por interesses americanos

extraído do GGN

Da PRI (Public Radio International)
de Catherine Osborn
Traduzido por Luiz de Queiroz do Jornal GGN
Sugestão de Airton
Em cada reviravolta da crise política brasileira – hoje é a luta do ex-presidente Lula para conseguir assumir uma vaga no gabinete da presidente Dilma Rousseff – há um grupo familiar de protagonistas, que não são nem políticos nem investigadores anticorrupção.
Eles são manifestantes de direita, jovens e organizados, e podem ser uma força determinante na decisão do Congresso brasileiro de votar a favor do impeachment da atual presidente.
O estudante de engenharia Pedro Souto (22) estava no topo de um carro de som, com uma bandeira do Brasil sobre os ombros, como uma capa do Super Homem, durante protesto realizado no domingo (13) no Rio de Janeiro. Mais de 200 mil pessoas foram às ruas. O carro de som tinha um cartaz do Movimento Brasil Livre, um dos principais grupos que organizaram os protestos em todo o país no dia 13 de março, e que continua a convocar os membros para as ruas a cada nova revelação (que agora acontece diariamente) do drama político brasileiro.
O Movimento Brasil Livre foi fundado por membros e ex-membros de outro grupo que estava se espalhando depressa no país: o Estudantes Pela Liberdade. Por liberdade, eles querem dizer liberalismo econômico: eles são favoráveis à redução de gastos públicos, privatização de companhias estatais e diminuição da regulação do estado.
Essas políticas estão distantes da forma que o Brasil se organiza atualmente. Como muitos países latino-americanos, o Brasil é um estado de bem estar social, com sistema de saúde universal e muitas companhias parcialmente controladas pelo governo.
Mas nas últimas décadas, instituições pró-mercado e anti-regulação estão crescendo na região. O economista Bernardo Santoro é parte desse movimento no Brasil. Ele se lembra de comparecer a um evento no estado do Rio de Janeiro, em 2012, que havia sido organizado, em parte, por um grupo chamado Atlas Network.
Lá, os participantes falaram sobre o futuro do liberalismo no Brasil, discutindo “ideias sobre como o movimento no Brasil iria crescer. E trazer os Estudantes Pela Liberdade para o Brasil era uma dessas ideias”.
Tanto o grupo Atlas quanto os Estudantes Pela Liberdade têm sede nos Estados Unidos, e ambos receberam dezenas de milhares de dólares em financiamento nos últimos cinco anos, de fontes como a Fundação John Templeton e a Fundação Charles Koch, grupos bilionários conhecidos por apoiarem causas de extrema direita.
Detalhes da Fundação John Templeton na captura de tela abaixo.                       
                                 
No Brasil, o grupo Estudantes Pela Liberdade começou a atuar com subvenções de doadores americanos, mas agora o grupo é financiado majoritariamente dentro do país, de acordo com Juliano Torres. E é grande, com mais de mil membros.
Atualmente, cerca de metade dos membros do grupo Estudantes Pela Liberdade em todo o mundo são brasileiros. Eles recebem materiais de treinamento sobre como planejar eventos, arrecadar fundos e falar em público. Um punhado deles viajou para os Estados Unidos para receber treinamento, e muitos discutem política econômica usando referências como o Instituto Cato e o senador americano Rand Paul.
Torres diz que os movimentos estudantis liberais cresceram tanto no Brasil porque “nós tiramos vantagem da impopularidade da presidente do Partido dos Trabalhadores”. Em 2014, a economia brasileira desacelerou e começou a encolher dramaticamente, e manchetes destacavam o envolvimento do Partido dos Trabalhadores no esquema de propinas na Petrobras.
“Estudantes Pela Liberdade não é uma organização política”, diz Torres, “mas nós encorajamos que nossos membros sejam politicamente ativos”. Em 2014, membros e líderes do Estudantes Pela Liberdade fundaram o Movimento Brasil Livre e ajudaram a fundar o movimento Vem Pra Rua, com o objetivo de protestar contra a presidente Dilma. Dilma não foi acusada nas investigações anticorrupção envolvendo a Petrobras, mas desde março de 2015 o Movimento Brasil Livre tem tentado aumentar a pressão para que ela seja impedida, em favor de um presidente mais pró-negócios.
Em dezembro, o presidente brasileiro da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, acolheu o processo de impeachment, alegando uso ilegal de dinheiro no orçamento da campanha de 2014.
Em um dos relatórios de 2015, a sede americana do Estudantes Pela Liberdade orgulhosamente destacou os protestos contra o governo realizados no Brasil. 
“O que está acontecendo no Brasil agora, nós queremos aprender com isso e queremos descobrir como pegar suas melhores práticas para implementar em outros lugares”, disse o coordenador do Estudantes Pela Liberdade em Washington, Sam Teixeira. Ele afirmou que em situações políticas onde o governo é impopular, fica mais fácil advogar que a abertura de mercado é uma solução.
“No final das contas”, disse Teixeira, “nós queremos ver as pessoas se saindo bem, pessoas felizes, pessoas prósperas. Sendo capazes de viver a vida que elas escolheram e de ter autonomia. Essas são coisas que não existem no Brasil e na maior parte do mundo. Nós realmente esperamos e acreditamos que a filosofia liberal pode trazer prosperidade e felicidade para o mundo”.
O cientista político Celso Barros, que é colunista no jornal Folha de S. Paulo, diz que “a maioria dos brasileiros nunca votaria em políticas liberais. Tudo que você precisa fazer é entrar na favela mais próxima e qualquer um vai te dizer que nós estamos a um longo caminho de distância da meritocracia no Brasil”.
Barros diz que algumas reformas econômicas são necessárias para que seja mais fácil fazer negócios no Brasil. Mas ele acrescenta que a probabilidade crescente de que a presidente Dilma não vá terminar seu mandato – seja pelo impeachment ou pela cassação de sua chapa devido às contas da campanha em 2014 – significa que no curto prazo, os brasileiros provavelmente vão ver políticas econômicas mais rigorosas do que eles aceitariam de um representante eleito normalmente.
O PMDB assumiria a presidência do Brasil no caso de impeachment, um partido que Barros diz “Não é bem conhecido por ter gestores eficientes. É bem conhecido por ter políticos corruptos”.
O PMDB silenciosamente desprendeu uma plataforma econômica que é mais à direita do que em toda sua linha histórica. Sobre mudanças concretas que provavelmente vão ocorrer, “a direita gostaria de ter menos regulações trabalhistas”, diz Barros. “Eles adorariam que os sindicatos fossem menos poderosos”.
Bernardo Santoro diz que independentemente de quem vá assumir a presidência a seguir, o Movimento Brasil Livre vai continuar a pressionar por uma redução no tamanho do governo.
Para Barros, o mais preocupante é o precedente que o impeachment da presidente Dilma – que tem contra ela “acusações fracas” – abre para o futuro da estabilidade política brasileira. Ele também vê um eco das políticas americanas nos grupos de jovens que lideram a empreitada pelo impeachment: “Esses caras claramente são inspirados pelo Tea Party (Partido do Chá) e pela recente radicalização do Partido Republicano.
Barros diz que o futuro do Brasil é incerto.

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