A tentativa de Michel Temer de iniciar uma “ofensiva” no exterior
contra a percepção de que não somos uma república de bananas fracassou
antes de começar.
O senador Aloysio Nunes, do PSDB, pau mandado de Temer, foi a
Washington para explicar a situação. Havia tomado uma invertida de Luis
Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, OEA, e
de Ernesto Samper, Secretário Geral da União de Nações Sul-Americanas,
Unasul.
Almagro afirmou não ver “fundamento” para o impeachment. “Se houvesse
uma acusação bem fundamentada, como houve em outros casos no Brasil,
então perfeito. Mas isso não existe e é muito desonesto apresentar
nesses termos”.
“Vamos explicar que no Brasil as instituições funcionam e os direitos
são respeitados, ao contrário do que petistas vêm dizendo”, falou
Aloysio. Ele teria encontros com um subsecretário e outros membros do
governo americano.
O problema é que não são só “petistas” dizendo. A iniciativa dos
Trapalhões já dá, de cara, uma dimensão do que se pode esperar. É tarde
demais para tirar da lata de lixo o esquema. Lá fora, a história já está
sendo contada como ela é.
Se Temer e sua turma podem contar com a imprensa brasileira, isso não
ocorre com a imprensa internacional. Correspondentes e analistas
europeus e americanos fizeram o que a grande mídia brasileira não faz:
apuraram os fatos e os publicaram.
O resultado é uma desmoralização do impeachment, de seus autores e, por extensão, do país.
Christiane Amanpour, da CNN, realizou uma bela matéria sobre a
votação do domingo, tendo como convidado especial o sempre lúcido Glenn
Greenwald — o mesmo Greenwald que, na entrevista com Lula, se declarou
“chocado como as Organizações Globo, Veja, Estadão, tão envolvidos no
movimento contra o governo, defendendo os partidos da oposição. “.
A edição espanhola do “El País” falou em “circo” e deu a manchete
“Deus enterra a presidente do Brasil”. A revista alemã Der Spiegel deu o
título de “A insurreição dos hipócritas” para a matéria em que lembrou
que o Congresso usou meios “constitucionalmente questionáveis” para
colocar o “avariado navio Brasil” numa “robusta rota de direita”.
Segundo o Guardian, temos uma Câmara “hostil e manchada pela
corrupção”. “O ponto mais baixo foi quando Jair Bolsonaro, o deputado de
extrema direita do Rio de Janeiro, dedicou seu voto a Carlos Brilhante
Ulstra, o coronel que comandou a tortura do DOI-Codi durante a era
ditatorial”, e levou “uma cusparada do deputado de esquerda Jean
Wyllys”, lê-se.
Antes disso, o “seminário” de Gilmar Mendes em Lisboa já havia sido
esvaziado de autoridades portuguesas e alvo de reportagens e artigos
contundentes e certeiros do jornal Público.
A lista inclui a Economist, o New York Times, o Los Angeles Times. Em
qualquer lugar do mundo, parlamentares corruptos e desqualificados não
estão em posição de julgar uma presidente que não cometeu crime. Ponto.
O golpe paraguaio só encontra justificativa em malabarismos da lógica com as elianes, mervals, reinaldos, jabores etc.
Nessa hora, surge entre muitos deles o oposto do complexo de
vira-latas: a soberba (que, no final das contas, é a mesma coisa, dois
extremos que se tocam).
Eliane Cantanhêde, do Estadão e da GloboNews, deu bandeira no dia 19.
No Twitter, Eliane atacou os correspondentes: “eles ficam no Rio e em
SP, sujeitos às versões pop e longe das múltiplas visões de país que se
concentram em Brasília.”
Sabe-se lá o que são “versões pop”. Segundo Eliane, eles devem se
estabelecer não nas duas maiores cidades do Brasil, mas na capital.
Eliane acredita tanto nisso que nem ela mora lá. Caio Blinder dá lições
para Greenwald. Caio Blinder.
É o mito grego de Procusto. Bandido que vivia numa floresta, ele
mandou fazer uma cama com as medidas exatas de seu corpo, nem um
milímetro a mais.
Quando capturava alguém na estrada, ele amarrava a pessoa àquele
móvel. Se fosse maior, cortava o que estava sobrando. Se menor,
espichava até caber.
A imprensa brasileira faz isso com o noticiário do impedimento: tem
de caber na narrativa. As publicações do estrangeiro estão dando ao
golpe o nome que ele tem. Ninguém, muitos Michel Temer e seus cúmplices,
vai mudar isso agora.
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