terça-feira, 28 de junho de 2016

Logo após a Brexit, Vladimir Putin vai à China

Pepe Escobar, Russia Today. Transcrito no site Carta Maior.

postado em: 27/06/2016 Enquanto todo o planeta tenta digerir as implicações de Brexit, o verdadeiro coração do século 21 muda mais uma vez para Pequim, onde o presidente Vladimir Putin esteve no sábado para visitar o presidente chinês, Xi Jinping.

Os negócios irão incluir uma garantia de $6.2 bilhões de um acordo de ferrovia de alta velocidade; aumento de fornecimento de trigo da Rússia para a China – construindo um terminal de grãos Trans-Baikal; e passos para uma cooperação militar mais profunda. Já estão cooperando em um motor que irá alimentar a nova linha aérea Rússia-China.

Tudo conectado à parceria Rússia-China exala integração da Eurásia. Começa com os Novos Caminhos da Seda, conhecidos como Um Cinturão, Uma Estrada (One Belt, One Road - OBOR), que irá progressivamente interagir com a União Econômica da Eurásia (EEU), como enfatizou Putin no fórum de São Petersburgo.

Envolve a expansão da Organização de Cooperação Shangai (SCO); o futuro imediato do BRICS, incluindo o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB); projetos a serem financiados pelo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB); e coordenação entre Rússia-China dentro do G20.

OBOR e a EEU naturalmente se unem como a Eurásia irá, devagar, mas certamente se formar em um empório massivo – uma rede interligada de comércio e infraestrutura se alargando do extremo leste da Rússia e a costa leste da China até a Europa Ocidental, incluindo o Oriente Médio e a África no caminho.

Geopoliticamente, a expansão OBOR-EEU é a resposta da Eurásia à fracassada Parceria Trans-Pacífica (TPP) da administração Obama, que exclui a Rússia e a China. Xi Jinping visitou a Ásia Central e o Leste Europeu  recentemente – da Sérvia ao Uzbequistão – vendendo OBOR. Moscou, considerando sua influência nos Bálcãs, irá somar com suporte.

Só é necessário olhar para alguns números para avaliar o poder da ofensiva multilateral chinesa. Pequim está cedendo até $100 bilhões à NDB; entre $50 bilhões e $100 bilhões à AIIB; $40 bilhões para o Fundo de Caminhos da Seda; $40 bilhões ao Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). Esses investimentos financeiros multilaterais serão concedidos em estágios e pode ser pago facilmente com o excedente anual em dinheiro das operações atuais de Pequim.

Além disso, Pequim tem $4 trilhões em pilha de dinheiro para ser usado à critério do Xi e da liderança coletiva. Essa é a realidade – não a baboseira usual dos EUA sobre a iminente implosão da China. É de se comparar com o Fed imprimindo tantos dólares americanos, cerca de $60 bilhões ao mês. Os EUA teriam uma dor de cabeça para se comprometer com qualquer possível investimento financeiro (com exceção de guerras) na casa dos $100 bilhões.





Geopolítica de cadeia de abastecimento... alguém quer?






Pequim e Moscou inevitavelmente chegaram a conclusão de que sua parceria estratégica cria influência e, por isso, aumenta seu valor pois se traduz em geopolítica multi-vetorial de cadeias de abastecimento.

‘Pipelinestan’ – com os enormes acordos Siberianos de 2014 – é um nó essencial do pacote total, enquanto a Rússia irá garantir o fornecimento de gás natural para a China atravessando o temido Estreito de Malacca, que Pequim sabe muito bem que pode ser facilmente bloqueado pela Marinha dos EUA. A interpenetração também se traduz, por exemplo, na Gazprom oferecendo à CNPC participação no monstruoso ramo de gás Vankor.



Moscou, por sua parte, não precisa depender exclusivamente do Ocidente para investimento externo – e ainda controlado/sancionado por Washington. O investimento chinês será a chave, pois sob a sinergia da OBOR-EEU, a Rússia estará bem a frente desenvolvendo seu potencial completo como fornecedor global de energia e agricultura e como um corredor de trânsito privilegiado ao longo de toda a Eurásia.

A Rússia pode até lucrar com a mudança climática. Poucos devem saber que a Rússia está se aquecendo mais rápido que qualquer outra nação. Isso abre a possibilidade de novos solos férteis que permitem a exportação de aves e peixes para – onde mais – a China. Sem mencionar quantidades torrenciais de água potável. Companhias chinesas estão comprando grandes participações em companhias russas de fertilizantes como a Uralkali bem como se tornando parceiros de companhias sediadas em Cingapura para ir com tudo em processamento de alimentos na Rússia.

Ao contrário do que os EUA nunca param de papagaiar, a parceria estratégica Rússia-China vai além de uma aliança conveniente de fornecimento-demanda. Se o Kremlin tomasse a decisão, companhias chinesas poderiam certamente reconstruir partes da infraestrutura russa em somente alguns anos.


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