quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A farsa no Senado não pode continuar

Jeferson Miola, no site Carta Maior

postado em: 24/08/2016

Ilude-se quem pensa que é séria a gritaria do Gilmar Mendes contra os “delírios totalitários” da força-tarefa da Lava Jato. Não há nenhuma conversão ética ou moral deste juiz tucano do STF. Ele continua no mesmo lugar de sempre: fazendo o jogo da sua famiglia tucana.

Se tivesse o mínimo de seriedade, e considerando a gravidade das acusações que fez, Gilmar não deveria se restringir à crítica política espalhafatosa através da mídia, mas teria o dever funcional e constitucional de determinar a abertura imediata de investigação da Lava Jato.

Gilmar, o tucano falastrão do Supremo e dono de capangas no Mato Grosso – predicado revelado ao mundo pelo ex-colega Joaquim Barbosa – fala grosso, usa frases de efeito, carrega nos adjetivos, mas não faz o essencial que um juiz do STF deveria fazer ante um crime, que é exigir a investigação do que caracteriza como abuso de autoridade de “falsos heróis” que “combatem o crime cometendo crime” e que avizinham o Brasil do “terreno perigoso de delírios totalitários”.

Ilude-se também quem imagina haver alguma ameaça à Operação devido aos desacertos políticos pontuais entre o Gilmar e o Rodrigo Janot. Eles até podem divergir conjunturalmente, mas preservam a unidade monolítica quanto ao objetivo estratégico de operar o golpe com o impeachment fraudulento da Presidente Dilma e destruir Lula e o PT.

A controvérsia entre os dois teve um único efeito prático, que foi o cancelamento do acordo de delação premiada do presidente da OAS, Léo Pinheiro, porque os depoimentos do empreiteiro incriminam José Serra, Aécio Neves e políticos tucanos nos esquemas de corrupção da Petrobrás e em outras estatais.

A profecia finalmente se realiza: consumado o impeachment fraudulento, acaba a Lava Jato. Pretendem embatumar a Operação para proteger políticos corruptos que montaram o esquema de propinas no período FHC e que hoje se aboletam no governo usurpador de Temer e Cunha.

Conforme escrevi em Quem investiga e julga os que investigam e julgam?, “a Lava Jato está em suspeição, porque é conduzida com critérios obscurantistas e discricionários que atentam contra a Constituição e a Lei”. Por isso “é urgente abrir a caixa preta da Lava Jato e submeter a Operação a uma rigorosa auditoria, sob a vigilância de instituições nacionais confiáveis e de organismos jurídicos internacionais”.

O tribunal de exceção do Senado não pode prosseguir a farsa do impeachment enquanto a Lava Jato não for investigada.

Esta Operação, com os abusos perpetrados para desestabilizar o governo e gerar caos político, ajudou a “assembléia geral de bandidos comandada pelo bandido Eduardo Cunha”, como a imprensa internacional chama a Câmara dos Deputados, a dar início ao impeachment fraudulento para derrubar a Presidente Dilma.

É cada vez mais notória e difícil de esconder a trama armada pela oligarquia golpista para derrubar a Presidente que não cometeu nenhum crime de responsabilidade.

A democracia brasileira foi abastardada e a Constituição estuprada para permitir a restauração neoliberal ultraconservadora e reacionária no país.



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