*José Álvaro de Lima Cardoso.
"O correr da vida
embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e
daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. (Guimarães Rosa).
O
DIEESE divulgará amanhã O Balanço das Negociações Coletivas do primeiro
semestre de 2016, no Brasil. Devem vir números muito ruins. Pelas indicações
preliminares, tivemos no primeiro semestre resultados semelhantes àqueles
verificados ao longo da década de 1990 e primeira década dos anos 2000. Não se
poderia esperar outra coisa. O momento é duríssimo, um dos mais
difíceis que o povo deste país já atravessou. Combinação explosiva da mais profunda
crise econômica global, grave crise econômica no Brasil e clima de golpe de
Estado. Um golpe que visa, dentre outras maldades, transferir o ônus da crise
para as costas dos trabalhadores, aposentados e pobres deste país. Neste
contexto, com economia em recessão, inflação alta, e desemprego idem, é ilusão
imaginar que obteremos bons resultados nas negociações coletivas.
Apesar disso, há todos os motivos para os trabalhadores e suas
representações fincarem pé em suas reivindicações, especialmente as de natureza
salarial. Com uma inflação acumulada de 10%, aceitar reajuste inferior
significa reduzir padrão de vida, ter menos recursos para aquisição de
alimentos, menos recursos para educação e saúde, etc. Isso num país no qual os
salários já são muito baixos. Ademais, os alimentos têm aumentado num ritmo
acima da média da inflação, o que significa ainda maiores dificuldades para os
trabalhadores que estão na base da pirâmide salarial.
Nesta conjuntura extremamente adversa, as entidades sindicais, mais do
que em outros momentos, terão que errar o menos possível em suas estratégias e
táticas. Não há possibilidade de eliminar o risco da derrota. Ele está presente
em qualquer disputa, inclusive na luta por melhores condições de vida e
salários. Mas os erros terão que ser minimizados, para reduzir também o risco
de prejuízos aos trabalhadores. Qualquer que seja a opção estratégica é
fundamental considerar que, neste momento, mais do que em outros, os resultados
das campanhas salariais, não dependem tanto da argumentação, da lógica, e do bom
senso. Mais do que nunca, o resultado irá depender da correlação de forças, ou
seja, da força dos trabalhadores em relação ao oponente. Força, para o
trabalhador, significa atenção, informação e mobilização. Esta é a hora das
estratégias refinadas, aliada à coragem e à dignidade.
*Economista.
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