Por Wanderley guilherme dos Santos
No Segunda Opinião
Um grande salto à frente lembra a fracassada tentativa da China,
entre 1958-1961, de impulsionar o crescimento da economia além do
fisicamente possível. O grande salto para trás de Michel Temer tem tudo
para dar certo: uma burguesia econômica tíbia, profissionais liberais
(engenheiros, médicos, dentistas, advogados, etc.) conservadores em sua
maioria, heterogêneo apêndice do terciário de mão de obra rudimentar e
reacionária (balconistas, caixas e congêneres), categorias
intermediárias entre o assalariamento e a incapacidade de crescer –
pequenos comerciantes, escritórios periféricos do setor de serviços –
igualmente reacionárias e um operariado de baixo poder ofensivo, exceto
em alguns momentos da trajetória econômica, majoritariamente caudatário
de lideranças partidariamente comprometidas. No passado, excepcionais
lideranças, conduzindo um estamento político ainda pouco contaminado
pelo vírus acumulativo das gerações capitalistas, empurraram um
empresariado gaguejante em direção à modernidade. Contaram com auxílio
de uma burocracia estatal de alta competência e valores nacionalistas,
formada desde os anos 30, e que atravessou com dignidade, com exceção
minoritária, o período ditatorial. A imprensa, nos intervalos de
liberdade, era ideologicamente plural e economicamente competitiva. Não
havia lugar para cenas como a do dia 17 de abril de 2016, na Câmara dos
Deputados, nem mesmo sob a vigilância de olhos e ouvidos fardados.
Hoje, Michel Temer dá o tempero insosso ao caldeirão reacionário em
que se misturam os pelotões de sempre da retaguarda. Dos políticos
vertebrados poucos restam, paralisados pelo nível de despudor explícito
das negociatas entre Legislativo e Executivo, com participações
especiais do Judiciário, noticiadas como rotina por uma imprensa
concentrada, chantagista e vingativa. A burocracia estatal espatifou-se
em tribos predatórias e ameaçadoras: polícia federal, procuradores
públicos, fiscais aduaneiros, auditores, juízes e todas as demais
gangues, medindo-se semanal, mensal, anualmente, em campeonato de
extorsões da renda nacional à vista do público desarmado, sem refúgio e
sem nicho de apelação. A população brasileira está sendo
sistematicamente estuprada por folhas de pagamento em que os
penduricalhos de benefícios laterais a título de todos os auxílios de
que ela própria é desvalida, transformados no meu champanhe, minha vida
dos casamentos-ostentação de políticos, juízes, empresários, banqueiros e
chalaças.
O governo de Michel Temer dá as primeiras passadas, acelerando para o
grande salto para trás e a grande queima de estoques. A massa
assalariada brasileira está sendo vendida a preços de saldo, com as
liquidações iniciais dos programas educativos e sociais. O patrimônio de
recursos materiais, como antes, será oferecido como xepa. A repressão à
divergência não será tímida. Não há nada a esperar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário