Por Luís Nassif, no Jornal GGN
O rebaixamento do Brasil para a segunda divisão das democracias
ocidentais teve três momentos significativos: a votação da
admissibilidade na Câmara, com aquela malta aos berros invocando o nome
do pai e da mãe; a performance de Janaina Paschoal no comício do Largo
São Francisco; e o jovem procurador gaguejante, armado de um Power Point
capenga, conduzindo um discurso tatibitate naquele que deveria ser o
grande desfecho da mais massacrante campanha já movida contra uma pessoa
no país.
Foi como se todo o edifício de marketing erigido em torno da Lava Jato desmoronasse de uma vez.
Até agora era ensaio e jogo para a plateia. O jogo de verdade começou ontem. E, ali, não houve marketing que resolvesse.
O dia começou com as críticas à parcialidade do Procurador Geral da
República (PGR) Rodrigo Janot, culminando com uma Carta Aberta de seu
ex-melhor amigo, procurador Eugênio Aragão. E terminou com um palco
iluminado, com os olhos do país sobre a Lava Jato, para que procuradores
provincianos, armados com todos os recursos do marketing – prejudicado
por um Power Point sofrível – se exibissem para a torcida durante 90
minutos, sem marcar um gol sequer.
O único chute, aliás, foi gol contra: a afirmação do procurador de
que “não temos prova, mas temos convicção”. Que mereceu uma blague
matadora: uma foto do helicóptero com os 400 quilos de cocaína e a frase
“nós temos provas, mas não temos convicção”.
Depois de meses com o país aguardando em suspense o grande dia da
apresentação da denúncia, a peça acusadora assemelha-se a um livro de
ensino básico montado com a assessoria do Google. Descrevem os
escândalos da Petrobras, o mensalão, o presidencialismo de coalizão, a
história de José Dirceu no PT, em um “enrolation” sem par. E terminam
com um duplo abuso.
O primeiro, de não terem apresentado uma prova sequer contra Lula. O
segundo de, mesmo assim, terem alimentado os jornais de manchetes falsas
por meses e meses, e, agora, oferecerem a denúncia, com uma peça que
expõe o Ministério Público Federal à galhofa.
Com um texto paradidático para ensino fundamental, explicam o que é o presidencialismo de coalizão.
“Dentro do “presidencialismo de coalizão”, a formação da base aliada
do Governo envolve três momentos típicos. Primeiro, a constituição da
aliança eleitoral, que requer negociação em torno de diretivas
programáticas mínimas, a serem observadas após a eventual vitória
eleitoral. Segundo, a constituição do governo, no qual predomina a
distribuição de cargos e compromissos relativos a um programa mínimo de
governo. Finalmente, a transformação da aliança em coalizão efetivamente
governante, momento em que emerge o problema da formulação da agenda
real de políticas e das condições de sua implementação. Numa estrutura
multipartidária, o sucesso das negociações, na direção de um acordo
explícito entre o Poder Executivo e os integrantes do Poder Legislativo,
que aprova as leis que concretizam o plano de governo, é decisivo para
capacitar o sistema político a atender demandas políticas, sociais e
econômicas”.
Fantástico! Entenderam o que o presidencialismo de coalizão!
Mas o de Lula é diferente.
“No entanto, de forma contrária, em vez de buscar apoio político por
intermédio do alinhamento ideológico, LULA comandou a formação de um
esquema criminoso de desvio de recursos públicos destinados a comprar
apoio parlamentar de outros políticos e partidos, enriquecer
ilicitamente os envolvidos e financiar caras campanhas eleitorais do PT
em prol de uma permanência no poder assentada em recursos públicos
desviados”.
Antes do Lula os partidos queriam cargos para fazer o bem comum, procurar o bem e a caridade e pagar dízimo para a Igreja.
Mais: descobriram novidades fantásticas! Que além de construir a
governabilidade, Lula “objetivou também a perpetuação no poder do
próprio partido”. Alvíssaras! No seu curso de Ciências Políticas por
correspondência, os doutos procuradores de Curitiba descobriram que os
partidos políticos lutam para se perpetuar no poder.
Em um trecho, desenvolvem a tese da caixa única centralizada, como se
fosse peça central para fechar o raciocínio em torno da tal organização
criminosa. “Considerando que o dinheiro é um bem fungível, e
tendo em vista que os recursos ilícitos de cada uma das
empreiteiras revertia para o mesmo caixa geral de cada partido,
os valores desviados de diferentes fontes nesse caixa se
misturavam”, uma maneira douta e erudita de dizer que os partidos
recebiam propinas de diversas frentes.
Na falta de provas, recheiam a acusação com uma salada monumental,
misturando acusações diversas, de escândalos e sub-escândalos já
levantados, das mutretagens da André Barbosa com agências de
publicidade, à Eletronorte, para atribuir tudo a Lula.
O leitor esperando as provas, e nada. Em cada capítulo repetem a
história do apartamento tríplex – sem apresentar um dado sequer de que é
ou era de Lula; e a guarda dos documentos presidenciais, bancada pela
OAS.
É para isso que se quer as Dez Medidas. Para conferir um poder
avassalador para procuradores sem discernimento, que sabem apenas jogar
para a mídia.
Com esse espetáculo burlesco, os procuradores da Lava Jato
facilitaram o trabalho dos que pretendem esvaziar sua atuação. Fizeram o
mesmo que seus colegas portugueses com o ex-primeiro-ministro José
Sócrates: montaram uma campanha sem provas para destruir a imagem
política. Entregue o trabalho sujo, chegou a hora do Alto Comando
enquadrá-los. E, nada melhor, do que a apresentação canhestra de
procuradores imberbes e deslumbrados para facilitar o desmonte.
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