quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Arrebentar a soberania e colocar o Brasil de joelhos



                     José Álvaro de Lima Cardoso.
        A lei que possibilita às multinacionais explorar as jazidas do pré-sal sem a presença da Petrobrás teve o seu texto-base aprovado no último dia 05, na Câmara dos Deputados. Com a PL 4576 a Petrobrás passará a ficar “desobrigada” de ser a operadora exclusiva de áreas do pré-sal sob o regime de partilha. Foram 292 votos a favor, 101 contrários e uma abstenção. Apesar de falta ainda um ou outro aspecto específico para ser discutido, o fundamental do projeto foi votado e seguirá para a sanção presidencial. Como se sabe, o projeto partiu de José Serra, que em 2010 prometeu à Chevron acabar com o regime de partilha, como está documentado[1].   
        Estava escrito nas estrelas. Mal aprovaram o fim da exclusividade de operação do pré-sal pela Petrobrás, começam a atacar um outro pilar da Lei de Partilha, o conteúdo nacional. Editorial do Jornal o Globo de 11.10, fuzilou: “Mas nem todo o terreno está aplainado. Falta redefinir para níveis realistas os índices de nacionalização dos equipamentos a serem usados nestes investimentos. Por serem muito elevados, na regulação estatista do pré-sal, não apenas desestimulam empresas, como elevam o custo de operação da Petrobras e reduzem sua eficiência. Espera-se que seja questão de tempo remover mais este entulho regulatório”.
          O golpe de Estado em curso no Brasil tem vários objetivos: livrar corruptos da cassação e da cadeia, desmontar o arcabouço de direitos sociais e trabalhistas no Brasil, interromper a aproximação do Brasil com os demais países que compõem o BRICS, etc. Mas a motivação central sãos as imensas reservas de petróleo existentes no pré-sal. Uma das razões para a voracidade do apetite imperialista sobre a riqueza contida do pré-sal, é o fato de que já se descobriu muito petróleo, mesmo tendo sido mensurada apenas uma pequena parte da área total.
       As estimativas dos especialistas do setor é de que apenas o pré-sal possa conter até 300 bilhões de barris de petróleo. Se considerarmos que a previsão é de que, até o final da década, o barril do petróleo retorne ao preço médio superior a 100 dólares (após chegar a US$ 25, no fundo do poço, já retornou para US$ 48), estamos tratando de recursos que ultrapassam os 30 trilhões de dólares, superior a 10 vezes o Produto Interno Bruto do Brasil (o sétimo maior do mundo).  Estes dados mostram que não é por uma simples coincidência que a Petrobrás está no olho do furacão desde o começo da crise. A retirada da empresa da condição de operadora única do Pré-sal, é só uma etapa. O objetivo é destruir a Petrobrás enquanto empresa pública e entregar o Pré-sal às multinacionais.
        O cerco ao pré-sal e à Petrobrás vem de várias frentes. A nova direção da Petrobrás, com sua política de privatização mal disfarçada, vem abrindo espaços crescentes para as multinacionais. O novo Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 da Petrobrás prevê redução dos investimentos da empresa para os próximos cinco anos. O valor previsto para os investimentos no novo Plano, US$ 74,1 bilhões, significa uma redução de 25% em relação ao plano anunciado anteriormente (período de 2015 a 2019), que projetava investimentos de US$ 98,4 bilhões.
        Recentemente o presidente da companhia, Pedro Parente, desdenhou os recursos do pré-sal, afirmando que houve “endeusamento” da jazida. Parente desdenha porque tem pressa de entregar. A Petrobrás vendeu recentemente a sua participação de 66% no campo Carcará, no pré-sal na Bacia de Santos, à petroleira estatal norueguesa Statoil, com grandes prejuízos. Além disso, a Direção já aprovou a venda de 90% da sua maior e mais lucrativa malha de gás, a Nova Transportadora do Sudeste (NTS), subsidiária que responde pelo escoamento de 70% do gás natural do país.
        Com a provação do fim da exclusividade, a tendência é ocorrer a vinda de empresas internacionais para os leilões de novas áreas do pré-sal. Diferentemente do que ocorreria se a Petrobrás tivesse a exclusividade na exploração, cada uma das empresas terá sua própria cadeia de fornecedores, muito provavelmente de outros países. Provavelmente a direção da Petrobrás a deixará de fora dos próximos leilões em função da dívida de curto prazo, com os compromissos que vencem nos próximos três anos.
     O recentemente anunciado Plano Estratégico da Petrobrás para o período 2017 a 2021 no fundo visa fatiar a empresa, como sua direção já está fazendo. Segundo o Plano, a empresa pretende enfrentar sua dívida de curto prazo, com vendas de ativos que deverão somar US$ 19,5 bilhões.  A empresa pretende sair de atividades de produção de biocombustíveis, distribuição de GLP, produção de fertilizantes e das participações em petroquímica. O objetivo é reduzir o escopo de atuação da empresa, acabando com sua maior qualidade, que é a atuação integrada, uma das principais razões de sua força e grandeza. Como vêm denunciando a FUP e outros especialistas, vão acabar o que a Petrobrás tem de melhor que é a sua atuação integrada do “poço ao posto”. É aquilo que já se sabe: a desmontagem da Petrobrás e a entrega do pré-sal faz parte de um objetivo maior que é colocar o Brasil de joelhos.
                                                                                               *Economista.


[1] A Chevron, com sede nos Estados Unidos, é uma das grandes empresas mundiais do ramo energético, especialmente do petrolífero. Compõe o chamado Big Oil ( lobby da energia), que exerce grande poder econômico e influência política no mundo todo. Segundo denúncia do site WikiLeaks, em 2010, José Serra prometeu para Patricia Padral, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o governo, da Chevron, que iria acabar com o regime de Partilha.

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