domingo, 31 de dezembro de 2017

No Brasil o risco de golpe militar não deveria ser subestimado.



                                                                                   José Álvaro de Lima Cardoso.
     A polícia militar do Rio Grande do Norte está em greve desde o dia 19 de dezembro, contra o atraso de salários (incluindo 13º), e condições de trabalho. A paralisação dos policiais gerou uma onda de crimes em várias cidades do estado, superdimensionados pela mídia e por setores golpistas. O governador solicitou ao governo federal as forças armadas para fazer o policiamento de rua. Este caso é diferente, por exemplo, do Rio de Janeiro, onde, apesar do exército fazer o policiamento de algumas favelas, a segurança pública continuou sob a responsabilidade do governo do estado. O caso do Rio Grande do Norte é diferente: os militares estão substituindo o policiamento regular, o que é inédito no país e extremamente preocupante. Isso num quadro onde a movimentação dos militares no sentido do golpe vem ocorrendo há meses.
    No Brasil, somente a espinha dorsal das medidas golpistas, o cerne do golpe, já representará uma das maiores transferências de riqueza dos trabalhadores para as burguesias nacionais e internacionais, já ocorrido na história. Conforme tais medidas vão minando as condições de vida da maioria da população, ou seja, conforme vai ficando mais evidente para a maioria o que significa o golpe na retirada de direitos e arrocho salarial, a tendência é haver crescente reação popular. As indicações neste sentido já são muito fortes, neste momento: segundo o Ibope, em pesquisa realizada entre os dias 7 e 10 de dezembro, 59% dos brasileiros acham o governo Temer “pior” que o anterior, e apenas 10% o consideram “melhor”. Os institutos de pesquisa nem perguntam mais o que a população acha, hoje, do impeachment, porque sabe que a rejeição é total em função da drástica piora das condições de vida. Essa situação certamente irá se aprofundar na medida em que a crise se desenvolva.
     Neste quadro o risco de golpe militar, visando conter uma eventual reação popular, não deve ser subestimado. Este é um debate crucial. Sabemos o que representam na história do Brasil (e América Latina) os golpes militares. Não só para direitos trabalhistas e políticos, como para a própria vida dos trabalhadores ou dos que ousaram se opor às políticas da ditadura. À exemplo de todos os golpes pós Segunda Guerra Mundial, um golpe militar neste momento seria dado a serviço do imperialismo e contra as organizações populares e trabalhistas. É ilusão infantil imaginar que haveria golpe militar com características nacionalistas, havendo golpe militar, será contra o povo e contra o país. 
     O risco do golpe militar é forte porque tem um aspecto que não fecha a equação golpista: um candidato de esquerda, que deveria estar “morto” politicamente neste momento, está disparado na frente nas pesquisas de intenção de votos, com chances reais de vitória nas eleições de 2018, inclusive no primeiro turno. Tendencialmente, inclusive, as chances de vitória da esquerda aumentarão à medida que passe o tempo, pois o programa dos golpistas, que veio para destruir o pais, já terá apresentado impactos mais aprofundados na destruição do emprego, da renda, e no avanço da pobreza. A destruição da CLT, o congelamento de gastos sociais por 20 anos (Emenda da Morte), liquidação do patrimônio público, desmonte da Petrobrás, entrega do pré-sal, o desmonte da Seguridade Social, e os demais ataques, já terão piorado a vida de 99% da população.   
     É neste contexto que é real o risco de golpe militar e não faltam sinalizações. Setores das forças armadas já disseram, mais de uma vez, que não só pensam em dar um golpe caso “as coisas saiam de controle”, como já têm um plano elaborado. A fala do General Mourão, há alguns meses, não foi isolada. Vários outros militares deram declarações, ou em apoio explícito ao militar, ou em relativização do que foi dito. Que tipo de situação representa o “caos” para os militares (condição estabelecida para uma intervenção militar) é uma definição que só eles sabem o que significa. Por exemplo, um candidato da esquerda ser o preferido nas intenções de votos pode ser interpretado como uma situação de caos. O que não seria nenhuma surpresa, dada a posição conservadora em geral das forças armadas.  
     Frente aos indícios de golpe militar, ainda que estes fossem muito fracos (e não são), não tem sentido simplesmente negar que haja a possibilidade de sua concretização. Os militares, especialmente nas últimas décadas, sempre tiveram muito poder no controle do regime político no Brasil. Negar a possibilidade de golpe militar é especialmente grave porque isso representa risco real de mortes, prisões e tortura de pessoas.
     A negação pura e simples do golpe tapa também os olhos para o fato de que as Forças Armadas apoiaram o golpe em 2016. Na melhor das hipóteses os militares foram consultados e consentiram com o golpe no ano passado. Mas a hipótese mais provável é que tenham participado das articulações golpistas. Caso contrário, já teriam se posicionado em relação a um conjunto de ações que ferem dramaticamente a soberania nacional como a entrega do pré-sal, a inviabilização do projeto de fabricação do submarino à propulsão nuclear, fundamental para proteger a Amazônia Azul, prisão do vice-almirante Othon Silva, a tentativa de vender terras a estrangeiros, e assim por diante.
     Frente aos fortes indícios, como declarações de militares de alta patente, divulgação de notas dizendo que os limitares estão preparados para intervir, e a presença de militares no policiamento regular, como no caso do Rio Grande do Norte, se não houverem protestos incisivos das organizações sociais e sindicatos, a tendência é irem elevando o tom, e medindo a reação da sociedade. Obviamente ninguém sabe se o golpe ira se concretizar. Até porque a existência do plano não significa a garantia de sua implementação. Inclusive porque, em qualquer plano complexo se deve levar em conta inúmeras variáveis e alternativas complexas, como é o caso de uma ação desse tipo.
     Golpes nem sempre são exitosos, seu desfecho depende da correlação de forças, que podem ser alteradas a partir de ações vigorosas e inteligentes. Não há uma articulação à luz do dia do golpe militar, com outros setores da sociedade. Mas é muito provável que o mesmo esteja sendo discutido com políticos, empresários, e organizações conservadoras, velhas conhecidas de golpes anteriores no Brasil. O que não faz sentido é ignorar a história e ficar contando com a sorte, supondo que não há possibilidades de ocorrer o golpe. Vamos lembrar que, em 2014 e 2015, muitos afirmavam (com muita certeza) que era impossível acontecer um golpe, porque a democracia no Brasil já estava “consolidada”.
                                                                                 *Economista.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Dodge encalhou


O Conversa Afiada publica notável e sereno Artigo de Joaquim Xavier, colunista do blog Conversa Afiada. 

A cidadã que hoje está sentada na cadeira de procuradora-geral da república conseguiu uma proeza. Em pouquíssimo tempo, já disputa nos livros o papel de figura mais perniciosa e patética a ocupar o posto. E olha que a concorrência é lascada. Já vimos no cargo gente como Geraldo Brindeiro, um mero ajudante de ordens de FHC consagrado como “engavetador-geral da República” de tanto acobertar denúncias contra o sapo dos sociólogos.
Há pouco esteve no posto Rodrigo Janot. Muito se fala das trapalhadas deste, das artimanhas, da verborragia e atração por holofotes. Mas o lugar de Janot no panteão dos desastres resta garantido mesmo pela fiança deslavada concedida ao golpe parlamentar do impeachment de Dilma Rousseff. Isto a mídia em decadência esconde.
Raquel Dodge disse a que veio até antes do primeiro instante, sua posse. Furtivamente, encontrou-se com o presidente ladrão para combinações fáceis de imaginar. É dele que recebe a gasolina batizada para fazer seu motor de improbidades funcionar. E, de lá pra cá, bate continência ao patrono. A procuradora não tomou nenhuma, nenhuma providência contra aberrações tais como a queima de recursos públicos para salvar Temer das denúncias de roubalheiras.
Raquel esconde-se como uma avestruz diante das acusações de que o juizeco Sergio Moro está envolvido numa indústria de delações conforme depoimento do ex-advogado da Odebrecht Tacla Duran. Silencia diante dos trambiques de Gilmar Mendes na escolinha da professora Carmen Lúcia. Não toma nenhuma atitude quanto ao trabalho sujo do diretor da polícia fascista –o mais recente, trocar o funcionário que investigava a roubalheira de Temer no porto de Santos. Raquel tampouco se sentiu incomodada com a truculência de procuradores, juízes e delegados que assassinou o reitor Luiz Carlos Cancellier.
Para alguém que nem sequer uma morte é capaz de comover, nada a estranhar que tal senhora também finja-se de poste diante do escambo delinquente operado pelo mais novo general da quadrilha de Temer. Promovido a ministro, Carlos “Cunha” Marun vem expondo com o estrépito habitual sua missão: manipular mundos e fundos do povo para comprar subserviência ao presidente punguista. “Cunha” Marun condiciona a liberação de dinheiro público a populações desesperadas ao apoio à gang do Jaburu –sem falar do “por fora” que provavelmente rola nestas negociações. Seria um caso de demissão sumária até mesmo em ditaduras preocupadas com fachadas. Aqui não vem ao caso.
Agora, na ilusão de lustrar um prontuário infame tão vasto em tão pouco tempo, madame Dodge insurge-se contra o decreto do indulto. Faz um arrazoado primário para jogar para a plateia: “querem salvar os corruptos”. Ora, todos os dados e números mostram que são pouquíssimos, quase nenhum, os “corruptos” alcançados pela medida. A maioria beneficiada são presos injustamente; gente que apodrece nas masmorras mesmo com penas vencidas; mulheres e homens lançados ao tráfico como mulas; autores de crimes tão graves como furtar barras de chocolate, coxas de frango ou restos de acém para poder sobreviver.
Caso estivesse mesmo preocupada com democracia, igualdade e Justiça, Raquel Dodge seria a primeira a se insurgir contra os atos discricionários tentando impedir manifestações em favor do ex-presidente Lula. As medidas, de autoria do ministério público federal (a senhora já ouviu falar dele, madame Raquel?), criminalizam por antecipação os protestos em Porto Alegre contra uma condenação tida como injusta pela maioria do povo brasileiro que deseja ver o ex-presidente disputando eleições.
Cadê Raquel Dodge nestas horas? Deve estar combinando mais um regabofe no Jaburu às escondidas, até ser flagrada por um repórter testemunha da nova falcatrua.

Os dez piores acontecimentos de 2017

Por João Pedro Stédile, no site Sul-21. Transcrito no blog do Miro.

A cada final de ano sempre se costuma fazer o balanço de avanços e atrasos na vida do povo. Mas neste 2017, cheio de acontecimentos memoráveis, está muito difícil selecionar.

Sendo assim, sugiro que você também faça sua lista! Veja a minha lista, a ordem não importa muito…

10 – Paralisação da reforma agrária e das políticas públicas para a agricultura familiar e camponesa, com fechamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), sucateamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a liberação de mais sementes transgênicas e mais agrotóxicos para envenenar nossos alimentos. Soma-se a isso, o projeto de vender nossas terras ao capital estrangeiro.

9 – A não penalização das empresas Vale S.A. e BHP Billiton, pelos crimes de Mariana (MG). Vale a lembrança de que tais empresas mataram 21 pessoas, devastaram um rio de 700 quilômetros, o Rio Doce, e atingiram a vida de milhares de pessoas entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Até hoje as mesmas não indenizaram, nem repararam os prejuízos para o povo, e ainda querem ampliar a mineração na região.

8 – As manipulações e prepotências da dupla Dallagnol e Sérgio Moro, que ferem a Constituição e insistem em querer inviabilizar a candidatura de Lula, sem ter provas. Por outro lado, a manutenção da liberdade dos senhores Aécio Neves, senador Zeze Perella, José Serra, Ricardo Teixeira, Eike Batista, o banqueiro Daniel Dantas; apesar das evidentes provas de corrupção.

7 – A entrega para o grande capital privado e estrangeiro de nossas riquezas naturais, como o preá-sal, a mineração, a água; que deveriam ser utilizadas em prol do bem comum do povo brasileiro.

6 – A aprovação pelo Congresso do limite de investimentos sociais em Educação e Saúde. Mas, ao mesmo tempo, ampliação de gastos com juros de mais de 400 bilhões de reais do orçamento nacional para os banqueiros.

5- As práticas manipuladoras da Globo sempre enganando e mentindo para o povo. Ainda que agora tenha caído sua máscara ao ficar evidente o acordo de apoio ao governo golpista de Michel Temer em troca de polpudos recursos de publicidade.

4 – A chamada “reforma trabalhista”, que retirou direitos históricos de cerca de 140 milhões de trabalhadores brasileiros, mantendo 20 milhões no desemprego e 22 milhões no trabalho precarizado, e sem nenhum direito previdenciário.

3 – O comportamento parcial e partidarizado dos membros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial o Sr. Gilmar Mendes, sempre atuando em favor dos interesses da grande burguesia.

2 – A foto maior da desigualdade social que apareceu na revelação de que apenas seis capitalistas ganham mais do que 102 milhões de brasileiros. E, entre eles, 25% dos domicílios não possuem nenhuma renda mensal.

1 – A continuidade do governo golpista de Michel Temer e seus parlamentares no Congresso.

Com tudo isso, a pergunta que persiste é: o que esperar de 2018?

Que o povo se mobilize, lute, se levante na defesa de seus direitos e dos interesses de toda nação. Que tenhamos eleições livres, democráticas e com a participação de Luiz Inácio Lula da Silva.

Abraços, nos veremos por aí, “nas ruas, campos e construções”, como mandava o poeta Vinicius de Moraes!!!

O falso moralismo do juiz pança-cheia

Por Eugênio Aragão.


O país se vê assaltado, neste fim de ano, de recomendações políticas inapropriadas daquele que deveria evitar a política partidária e se concentrar na interpretação equidistante, imparcial e equilibrada das leis. Sérgio Moro, o juiz de sempre.
Viaja a nossas custas para cima e para baixo, mexe e se remexe, para proselitar contra os legítimos interesses da maioria da população. Ganha, para isso, fartas diárias, prêmios, sem contar que deixa de jurisdicionar e ganha subsídios muito acima do razoável para uma massa de brasileiras e brasileiros cada vez mais desprovida de meios e de direitos.
Do alto da cadeia alimentar do serviço público ousa dar lições de sua gorda, empanzinada moral para os que nada têm: "repensem em quem vocês vão votar!", prelecionou, mesmo metido em controvérsias sobre o papel que exercia o amigo do peito em negociação milionária de delação mais que premiada junto a sua vara.
Não bastasse a advertência ao eleitor, claramente destinada a refrear o maciço apoio que Lula vem mostrando nas pesquisas de voto, o Sr. Moro ainda tem o desplante de pedir de público ao Sr. Michel Temer, aquele que chama de presidente, que use seu cargo para pressionar o Supremo Tribunal Federal para que não reveja sua equivocada jurisprudência sobre a execução provisória da pena após o duplo grau de jurisdição.
Não se enxerga. Pretende que a mais alta corte do país receba pressões do chefete do executivo para satisfazer seu discurso moralista punitivista. Se o Sr. Temer se arvorasse a atender o esdrúxulo pedido, estaria, tout court, cometendo mais um grave ilícito para sua coleção. Afinal, atentaria descaradamente contra a independência dos poderes, o que implica crime de responsabilidade. E o Sr. Moro entraria junto, por instigação à prática do crime.
Na sua cegueira, não consegue o juizinho de província disfarçar seu profundo mal-estar com o sucesso de Lula, que, como governante, mais mudou o quadro de exclusão social no país. Deve ter se contorcido de bronca ao saber, pelo DataFolha, que seu índice de rejeição foi para as nuvens, prestes a superar ao daquele que elegeu seu réu-inimigo. Mudar a jurisprudência, deve pensar, pode frustrar seu intento de tornar Lula inelegível e de encarcerá-lo aos aplausos de seu público fascista iludido.
Moro se tornou, com seu moralismo punitivista, a principal fonte do ódio político que se disseminou na sociedade. Um juiz que, ao invés de pacificar conflitos, os acirra e direciona contra seu inimigo eleito. Falar em imparcialidade desse indivíduo seria piada de mau gosto, pois a cada discursinho mequetrefe pelos palcos da direita política mundo afora, faz questão de pré-julgar e conjecturar sobre feitos por decidir. Adora ingressar na seara reservada à política, para desfiar suas opiniões de lege ferenda sobre o que pretende serem debilidades sistêmicas para o "combate à corrupção", sua obstinação compulsiva.
O Sr. Moro, ao se lançar sem trégua contra o réu que elegeu ser seu inimigo, se tornou cego para o estrago que causou à paisagem econômica e social do Brasil. A quebradeira da indústria naval, da construção civil, da produção petrolífera com tecnologia nacional, do esforço de criar capacidades próprias na energia nuclear – tudo isso causado pela falta de estratégia de sua gana persecutória. Sem contar o impacto direto dessa lambança na fiscalidade estadual. É só ver a deterioração das finanças do Rio de Janeiro para se ter uma ideia sobre os efeitos desastrosos dessa quebradeira.
Mas quem sofre os efeitos da irresponsabilidade do judiciário que jurisdiciona implacavelmente contra um inimigo é quem está na ponta da processo produtivo: os empregados da indústria quebrada, agora massivamente desempregados, sem condições de prover as necessidades básicas de sua família; os funcionários estaduais que deixam de receber seus pagamentos; os sistemas de saúde e de educação pública, que sofrem forte desinvestimento por conta da falta de receitas para sua manutenção – e por aí vai.
Isso tudo, porém, não mexe com a gordice dos ganhos do juiz de piso, que lava suas mãos a jato. Para ele, a preservação da moral justifica toda essa destruição. A moral do Sr. Moro tem, assim, um custo duplo: o da destruição que causou e os gastos com sua autopromoção. Mas tudo isso, na sua moral, está justificado e que se dane a fome alheia.
Por isso, não se envergonha em pedir aos desempregados e aos servidores sem pagamento que pensem bem em quem vão votar. Devem esquecer sua fome e lutar por sua moral. Por isso, também, que pede ao Sr. Temer que impeça que o Supremo reveja sua jurisprudência; os direitos devem ceder ao seu "combate à corrupção": uma guerra total em que nada é mais importante que sua bem remunerada "missão".
Fica o aviso: o aumento significativo de sua rejeição nas pesquisas de opinião é fruto dessa alienação. E a tendência é ascendente. Talvez ainda haja tempo de repensar sua ação e controlar seu ego, tempo para aprender a lição de Bertolt Brecht, que Lula sabiamente praticou e que o juiz insiste em ignorar: "Erst kommt das Fressen, dann die Moral" – primeiro vem o rango, depois a moral – esta lhe veste como uma luva!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Eric Nepomuceno: quem vier depois de Temer, encontrará um país em ruínas

https://youtu.be/kj6zSzI6vAA

Direita esperneia e exige privataria


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania. Transcrito no blog do Miro.

Confesso que meu lado obscuro se compraz com o esperneio derivado da pesquisa Datafolha que tomou de estupefação e inconformismo essa direitalha asquerosa que infecta o país.

Andei buscando as reações dessa escória e recolhi algumas pérolas.

Primeiro, as folclóricas.

Porta-voz de João Doria, Bolsonaro e Michel Temer, Joice Hasselmann desbundou e saiu logo xingando de burra a maioria esmagadora dos brasileiros que, por acaso, discorda dela. O problema é fazer isso em uma concessão pública de rádio. Mas, no Brasil, dono de meio de comunicação grande pode fazer o que quiser. Até sonegar impostos…





Já Reinaldo Azevedo, que necessita menos apresentações e é mais inteligente, não se deu nem ao trabalho de, vá lá, engendrar alguma “explicação” tosca como a de Joyce e preferiu não desqualificar a opinião da maioria sobre as privatizações e, em vez disso, dizer que erros da direita ao transformar Lula em vítima violando seus direitos – e, nisso, ele está certo – geraram rejeição à privataria.



Reinaldo está erradíssimo. Sempre houve rejeição às privatizações. Em 2015 o Datafolha já havia detectado isso, mas a primeira pesquisa que me lembro foi em 2007, do Ibope, quando mais de 60% rejeitavam privatizações. Não tem nada que ver com Lula, tem que ver com o resultado que a privataria tucana trouxe ao povo.

Mas e na Folha de São Paulo? O que o jornal disse? E seus colunistas? Nada. Não disseram nada. Nenhum editorial, nenhuma coluna, nenhum artigo. Nem no caderno de economia. Ficaram mudos.

Mas, apesar de a privataria ser odiada pelo povo, a Folha deu voz aos leitores integrantes do único (e microscópico) estrato social que curte privatizações na proporção de 55%, os que ganham mais de dez salários mínimos por mês e que não representam praticamente nada, estatisticamente, mas que, no jornal, também fizeram como os reaças famosos e xingaram o povo.



Gentinha medíocre, não?

O problema é que o povo brasileiro sabe muito bem o que são privatizações. Ao menos as tucanas.

Seja como for, a grande surpresa ficou por conta daquele que sofreu o maior prejuízo político com a tonitruante pesquisa Datafolha: Geraldo Alckmin, do PSDB, o partido da privataria tucana e quem, há pouco tempo, disse que, atualmente, privatização não seria mais “palavrão”.

A pesquisa mostrou que ele está errado. E qual foi sua reação? A que todo reacionário burro adota quando não sabe o que dizer: recorreu ao antipetismo dizendo que vai “acabar” (leia-se privatizar) a “tevê do Lula”.

Como pode um homem público dizer isso?

A EBC, a Tevê Brasil não é do Lula, é do povo brasileiro. Foram investidos recursos imensos para dar ao país uma tevê pública como a que todo país soberano tem. A Tevê Brasil inspira-se na BBC, a tevê pública britânica que tem a nobre missão de veicular informações e demais conteúdo que não interessam às tevês comerciais.

Enfim, não se poderia esperar nada melhor dessa gentinha medíocre que a cada dia que passa está sendo mais desmascarada.

Aos golpistas só falta rezar

Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital
Do blog do Miro.

Até outro dia, nas conversas a respeito da próxima eleição presidencial, a moda era falar na “terceira via”. Prossegue, mas agora com um componente novo: passou a ser de bom-tom descartar os resultados das atuais pesquisas de intenção de voto. Até alguns pesquisadores aderiram à novidade.

Embora nunca explícito, o raciocínio subjacente parece ser de que “estamos longe demais da eleição” e que somente “quando ela começar de fato” é que poderemos saber o que os eleitores farão em outubro. Por enquanto, as pesquisas pouco (ou nada) diriam.

Claro que os mais críticos são os que menos gostam do que veem. Os que rejeitam o candidato que está na frente desgostam do segundo colocado e não querem aceitar que o candidato de sua preferência talvez permaneça do tamanho que tem, longe de ambos.

De fato, para quem torce por qualquer outro nome que não os de Lula e Jair Bolsonaro, o quadro é complicado. Tão preocupante que é melhor jogar fora as pesquisas e rezar para que, algum dia, saiam números mais agradáveis.

Dependendo do instituto, Lula e Bolsonaro reúnem, atualmente, algo entre 50% e 60% das preferências, com larga dianteira para o ex-presidente. Em si, isso já seria preocupante para os torcedores de outros candidatos, mas há mais problemas.

Não é complicado estimar as taxas de votos nulos e brancos em eleições presidenciais, onde a escolha é mais simples e os eleitores costumam definir-se melhor. Nas duas últimas eleições, brancos e nulos somaram, no primeiro turno, cerca de 10% dos votos (8,6% em 2010 e 9,6% em 2014).

Se considerarmos que é provável que essa taxa suba em outubro próximo, dado o desgaste do sistema político aos olhos dos eleitores, as pesquisas atuais podem estar certas. Nas últimas, as proporções de entrevistados que pretendem assim votar são parecidas: 15% na mais recente CUT/Vox Populi e 14% no Datafolha de dezembro.

Voltando ao que as pesquisas mostram de voto nominal: 60% para Lula e Bolsonaro, mais 15% de brancos e nulos, deixa um total de 25% de votos para distribuir entre todos os demais candidatos. E se os dois líderes ganharem votos, diminuirá ainda mais a parcela a repartir.

É isso, aliás, que aconteceu ao longo de 2017: Lula cresceu, enquanto caíram candidatos mais à esquerda; Bolsonaro subiu à medida que minguaram as candidaturas à direita. Mantida a tendência, menores ficam as chances de “terceiras vias”.

Houve momentos em nossa história eleitoral recente que dão alento a quem torce pela possibilidade de que alguma coisa mude o cenário atual. Mais especificamente, o que aconteceu em 1989 com Fernando Collor e, de certa forma, o ocorrido em 2010 com Dilma Rousseff. Mas o alívio é ilusório. Nos candidatos com aspiração a repeti-los, não há nenhum com características semelhantes.

A questão fundamental é o nível de conhecimento. Se um candidato é pouco conhecido e possui atributos valorizados por aqueles que não o conhecem, é de imaginar que crescerá à medida que se tornar mais conhecido. Existe também a possibilidade de um candidato ser conhecido, mas possuir qualidades desconhecidas, cuja percepção faria com que crescesse.

Quando ocorre o inverso, o impasse é evidente: como fazer com que candidatos conhecidos, cujos atributos são igualmente conhecidos, cresçam? Em quais segmentos do eleitorado poderão aumentar seus votos, se todo mundo os conhece e não dá sinais de querê-los?

Collor e Dilma, no início de suas campanhas, eram praticamente desconhecidos. Ambos, no entanto, possuíam atributos altamente valorizados pelo conjunto do eleitorado. Era apenas questão de tempo e de exposição para que avançassem e foi o que aconteceu. Quando o eleitorado conheceu Collor e ficou sabendo que Dilma era a candidata que Lula apoiava, subiram nas pesquisas e venceram a eleição.

Quem se parece com qualquer um deles? Alckmin, um político nacional que já foi candidato a presidente e que governou São Paulo por quase 14 anos? Marina, que está prestes a ser candidata pela terceira vez seguida? Ciro Gomes, igualmente candidato por duas vezes e querendo ir para a terceira?

E os candidatos a representar o “governismo”? A qualidade desconhecida que possuem para se apresentar (ou se reapresentar) aos eleitores é o continuísmo? Acham que esse é um atributo que muita gente preza? Supõem que ser a Dilma Rousseff de Michel Temer dá votos? Ao fazer prognósticos e torcer por eles, é bom que as pessoas se lembrem que Lula é Lula. E também que Bolsonaro não é Celso Russomanno. É pouco provável que alguém cresça tirando votos que já estão com eles. Onde encontrar os que não têm?

O rei é o povo

O Sensor publica artigo do Conversa Afiada, chamado Marcelo.

Eu quero agradecer, em meu nome e em nome de todas as pessoas comuns, cidadãos simples do meu país como eu, pelas últimas decisões tomadas pelo nosso Egrégio Supremo Tribunal Federal.

Sim, o Supremo fez de nós pessoas melhores do que pensávamos ser.

Quando olhávamos aqueles Ministros sob suas togas, com passos lento e decididos, altivos, queixos erguidos, vozes impostadas ditando verdades absolutas e supremas, envoltos numa aura de extrema importância e autoridade, nos sentíamos pequenos, minguados e reles plebeus diante de uma Corte que beirava o sublime, o inatingível e o intangível.

Com essas decisões o Supremo conseguiu fazer com que a minha percepção sobre mim e sobre nós mudasse. Eles não são deuses. São pessoas tão pequenas e tão venais, que qualquer comparação que eu faça de mim e de nós em relação a eles, seria desqualificar-nos a um nível abissal. Tudo aquilo é fantasia, tudo aquilo é pose e tudo aquilo não passa de um teatro, mas nós somos reais.

Foi aí que eu vi o quanto somos mais importantes que eles! Enquanto as divindades supremas encarnam seus personagens de retidão e lisura, mas com suas decisões abduzem a moral e destroem o país (e de quebra a reputação do Judiciário), nós brasileiros comuns e sem toga trabalhamos arduamente dia e noite para construir o país, ou pelo menos para minimizar os danos que eles provocam.

Então... Como é que um dia eu pude vê-los como sendo superiores a nós? Eu estava enganado. Nós somos muito superiores a eles, mesmo sendo zés, joãos, marias, desde o pequeno ambulante ao médico ou engenheiro. Nós somos as verdadeiras autoridades, porque nossa autoridade não foi conferida por um político malandro capaz de tudo com uma caneta. Nossa autoridade nos foi dada pela nossa força de continuar tentando fazer um Brasil melhor.

Fico sinceramente com pena é dos advogados, que são obrigados a chamar esses ministros de Excelência, ainda que com a certeza de que não há excelência alguma nos serviços que eles estão prestando à nação. Acho que deve ser o mesmo sentimento de ser obrigado a chamar o cachorro do rei de "my lord".

Agora eu sei o quanto somos bem maiores que eles, mesmo sem aquelas expressões em latim e doutrinas rebuscadas cheias de pompas e circunstâncias, que no final significam apenas passar perfume em merda. Se há alguém realmente importante no Brasil, esse é o Excelentíssimo Povo Brasileiro, que apesar de tudo é obrigado a sentir o mau cheiro que vem da grande Corte, e mesmo com náuseas e ânsia de vômito, tem que acordar as 5 da manhã pra fazer aquilo que eles não fazem: Produzir.

Obrigado, Supremo, por nos mostrar que hoje o rei sou eu e o meu povo.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Meirelles conduz os Estados ao matadouro

Por J. Carlos de Assis, no Jornal GGN. Transcrito no blog do Miro.

Rio Grande do Norte saiu da fase da crise para entrar no caos. Outros Estados se seguirão. Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entre os grandes, estão na mesma trilha de total desmantelamento de suas funções de governo. Mesmo São Paulo, o mais rico de todos, está cancelando ou adiando pagamentos de professores universitários por falta de orçamento. Breve toda a República sucumbirá, se ainda já não sucumbiu, à destruição de seus sistemas de saúde, de educação e de segurança pública, entre outros.

São muitos os culpados por essa situação, inclusive a depressão econômica.

No plano imediato, porém, há dois deles, verdadeiros açougueiros dos cidadãos brasileiros: Michel Temer, porque é basicamente um ignorante que não consegue avaliar a extensão dessa crise, e Henrique Meirelles, que faz questão de fomentar a crise a fim de facilitar os objetivos neoliberais de destruição do Estado, de privatização e de facilitação de transformação dos espaços públicos em espaços abertos à rapina do setor privado, como a água da Cedae.

O primeiro passo para o aniquilamento financeiro dos Estados e o progressivo estrangulamento da Federação, ainda no Governo FHC, foi a famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal. Saudada pelos neoliberais como o caminho para forçar a probidade dos Estados, não passou de um meio de estrangulamento dos serviços públicos estaduais e de sua capacidade de endividamento. Enquanto isso uma legislação paralela, a Lei Kandir, reduzia as receitas estaduais com isenção de impostos sobre exportação de commodities.

Mas esse não foi o ponto máximo de aniquilamento das finanças estaduais. Em 1997, sob pressão do FMI, e determinado a fazer superávit primário a qualquer custo, o Governo federal obrigou os governos estaduais a privatizarem seus bancos comerciais para facilitar a unificação das contas públicas. Como a maioria desses bancos rolavam dívidas dos Estados junto a bancos privados, o Governo não pensou duas vezes: consolidou essas dívidas e pagou pelo valor de face os títulos que estavam sendo rolados, usando para isso títulos da dívida pública federal.

Um não especialista vê isso com naturalidade. Afinal, se o Estado rolava suas dívidas junto aos bancos comerciais privados nada mais natural do que contar com a bondade do Governo federal para pagar a conta à vista recebendo a prazo a contrapartida dos pagamentos dos Estados. Entretanto, há nisso algo de estranho do ponto de vista federativo. Os títulos públicos que a União usou para antecipar o pagamento da dívida aos bancos privados não representavam dinheiro do Governo federal, mas dos próprios Estados e municípios.

Note-se que a Constituição define a Federação como união indissolúvel dos Estados e Municípios. Não diz que a Federação é a União mais Estados mais Municípios. Significa que, quando a União emite dívida, ela o faz em nome de Estados e Municípios. Em conseqüência, ao pagar de uma vez a dívida consolida da dos Estados, o Governo federal efetivamente quitou essa dívida com passivo dos Estados (e municípios maiores), e não há nenhum sentido econômico ela cobrar a dívida novamente, criando um novo passivo, aos mesmos Estados.

Em face disso, temos uma situação na qual o Governo federal simplesmente está roubando recursos dos Estados para que eles paguem uma dívida que jamais teria existido. Em termos quantitativos, tomando como base valores reais do fim do ano passado, a dívida consolidada se levava a R$ 111 bilhões em 1997. Foram pagos pelos Estados até fins de 2016 nada menos que R$ 277 bilhões, por força de incidência de juros estratosféricos. E restam a pagar nada menos que R$ 493 bilhões. Isso, naturalmente, é impagável. É a própria destruição da Federação nos termos exigidos por Meirelles.

Foi se valendo dessa situação que o Ministro da Fazenda decidiu de forma oportunista forçar os Estados a promover um programa de privatização em larga escala em nível estadual. O caso mais paradigmático é o do Rio de Janeiro. Aproveitando-se de um governo estadual fraco e altamente endividado, inclusive por conta da dívida com a União, ele lhe impôs a venda da Cedae, sem qualquer consideração com as prioridades da sociedade fluminense e com a necessidade de defesa pública de uma área vital para o bem-estar da população.

O mais grave não é isso. A venda da Cedae cobre uma parte ínfima das necessidades financeiras do Estado. O acordo assinado prevê três anos de moratória relativa ao resto da infame dívida a pagar, porém sem garantia de que, ao fim desse tempo, as finanças do Estado estejam recuperadas. Isso acontecerá com todos os Estados. É um processo perverso de privatização que não tem qualquer perspectiva a não ser a queima de ativos. Contra isso, só existe um remédio: juntar os Estados mais atingidos e promover no Congresso uma sublevação contra a Federação. Sem isso, todo o país tende a virar um Rio Grande do Norte.

Feito de ferro e flor, amigo dos pobres, e inimigo número um dos fascistas


Gregório Lourenço Bezerra é um dos grandes heróis brasileiros. Sua trajetória revela uma bravura impressionante. É pouco conhecido, como a esmagadora maioria dos heróis do povo. Nascido em Panelas, no Agreste de Pernambuco, aos quatro anos começou a dar duro na lavoura. Aos nove anos, já era órfão dos pais. Ficou na condição de analfabeto até os 25 anos. Preso quatro vezes ao longo da vida, no total passou 23 anos da sua vida na cadeia, O motivo das prisões foi um só: coragem de lutar pelos direitos do povo e da classe trabalhadora. Foi preso pela primeira vez aos 17 anos, quando participava de uma manifestação de apoio à Revolução Bolchevique, tendo ficado preso 5 anos. Foi um dos primeiros a ser preso e torturado pelo regime militar após o golpe de 64. Sua coragem é para poucos. Moído de pancada, arrastado que nem animal pelas ruas de Recife e torturado até o limite, não entregou nenhum companheiro. Um trecho da poesia de Ferreira Gullar, feita em homenagem à Gregório, diz: “"Mas existe nesta terra muito homem de valor que é bravo sem matar gente, mas não teme o matador, que gosta da sua gente e que luta a seu favor, como Gregório Bezerra, feito de ferro e de flor". Um pouco antes de morrer, Gregório Bezerra falou: "Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das ditaduras fascistas".

A consagração final de Lula será consumada por seus carrascos. Por Carlos Fernandes

https://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.diariodocentrodomundo.com.br%2Fa-consagracao-final-de-lula-sera-consumada-por-seus-carrascos-por-carlos-fernandes%2F&h=ATMZR3V1JionGRQWYezmfneN6t0sSEy5XJDpAGPYBApuiraqLbNX00F71eosGxM3lZqYyYQXgxn1nFvflzj2WnaS9XQ363xPqSysqad88ChIooKAStUbUcRgwI8K_M0md5eJaWY8jNTHZxSVzFkixm11GbieYYo6Nx4IQjqEt8n10bVDlF7oVbgbD-LBCGAvJY117Tiw6feuk2zQbg8z7-j4yGSoic0OTirpvqtF1JwVJRTQHVIW2x2lLtC_VbIm-QFoA3opt59iQ03tZCkLCjfA55ZcWCFTtXwbj-nkQR2LWw

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Jessé Souza: o golpe criminalizou a igualdade social

Artigo  transcrito no Conversa Afiada Oficial

A sociedade brasileira foi vítima​,​ a partir de 2013​,​ de um dos ataques mais insidiosos e virulentos do capitalismo financeiro internacional. O ataque teve um sentido duplo: quebrar a nascente experiência do​s​ BRICS​,​ enquanto tentativa de inserção internacional autônoma do país​,​ e transformar o orçamento público via dívida pública – gigantesca fraude de socialização de prejuízos e privatização de lucros​.​ ​A​lém ​de ​​transformar ​as riquezas nacionais em um espaço livre para a rapina econômica de uma ínfima elite. Como as outras frações dos proprietários, como o agronegócio ou a indústria, retiram seu lucro maior, crescentemente, também da fraude financeira, a fração financeira do capital passa a ter o comando do processo econômico e do processo político.
O capitalismo financeiro não é apenas uma nova ordem econômica mundial. Ele não muda apenas a forma e a velocidade da acumulação do capital e a forma de​ controle do processo de trabalho. Ele também criminaliza e estigmatiza a esfera política para que esta perca qualquer autonomia​,​ e a agenda predatória financeira possa se impor sem qualquer restrição. E, acima de tudo, deseja evitar a mediação política como expressão de interesses das classes populares.
Daí a criminalização dos movimentos populares, o ataque aos sindicatos e a estigmatização dos partidos de esquerda. Na dimensão simbólica o ataque foi planejado há décadas pela disseminação de “think tanks” conservadores no mundo todo e pela compra e cooptação da indústria cultural e da imprensa a nível mundial. O núcleo duro da nova forma de poder é bifronte: o capital financeiro assalta a população e legaliza sua corrupção pela compra da ​P​olítica e do ​J​udiciário; e a grande imprensa frauda o público ​com a​ distorção sistemática da realidade.
Essa estratégia de manipular as mentes para assaltar o bolso dos imbecilizados já tinha sólida tradição no Brasil. Como mostro no meu livro mais recente (“A elite do atraso”, Leya, 2017) a elite paulistana constrói a criminalização seletiva da política, contra Getúlio Vargas e seu projeto nacional, ao cooptar a elite intelectual e fundar a imprensa elitista e venal que hoje possuímos. A ascensão de Vargas, com apoio da classe média “tenentista”, havia mostrado à elite a necessidade de​ control​ar​ a heterodoxia rebelde da classe média letrada. Se​,​ em relação ​à​ classe trabalhadora e ​à​ “ralé” de marginalizados​,​ a violência material e física era, e continua a ser, o tratamento “normal”, em relação à classe média a estratégia teria que ser outra.
Como a pequena elite precisa da classe média como aliada carnal no exercício diário da dominação econômica social e política, a classe média tem que ser seduzida e conquistada. Daí a estratégia de convencimento e,​ não​,​ de repressão. Para “convencer” s​ão necessárias​ ideias e uma imprensa elitista e venal para distribui-las.
Essa elite cria então a USP como ​um​ gigantesco “think tank” do liberalismo conservador brasileiro​.​ ​E faz dela a ​universidade de referência nacional, que forma os professores e estipula os critérios das outras universidades. Assim, temos a formação de todas as elites nacionais segundo uma referência comum. Essa referência nacional comum vão ser as ideias centrais de patrimonialismo e de populismo ambas criadas e difundidas na USP.
A primeira diz que a corrupção é só do Estado e da política para tornar invisível a corrupção do mercado​, que se torna​ possível pela captura do Estado enfraquecido e criminalizado. Depois, ainda diz que a elite do mal está no Estado​, enquanto o mercado​ é um espaço idealizado só de virtudes como ​o ​empreendedorismo, ​a ​honestidade, ​o ​trabalho duro e ​a ​iniciativa individual. Já o populismo serve para tornar as classes populares suspeitas de burrice inata e, portanto, presa fácil de líderes demagógicos e manipuladores.
Com isso, de uma penada, pode-se mitigar o princípio da soberania popular e tornar suspeita qualquer liderança popular. São essas ideias, distribuídas desde então pela mídia venal todos os dias, que envenenam a capacidade de reflexão da população e da classe média.
Como se não bastasse, criou-se também uma narrativa histórica de longa duração, baseada nessa visão distorcida​. Ela possibilita uma singularidade “vira lata”​,​ hoje patrimônio indissociável de todo brasileiro. É que a corrupção dos tolos, só do Estado e da política, passa a ser percebida como herança portuguesa e agora ensinada não só nas universidades, mas, também a toda criança brasileira na escola.
O ridículo dessa crença que supõe existir ​em​ no século XIV em Portugal noções que foram criadas no século XVIII, como a noção moderna de ​"​bem público​",​ que pressupõe a ideia de soberania popular, não parece ter incomodado ninguém. O ponto decisivo, ao arrepio da verdade e da inteligência, é inverter o sentido d​a​ apropriação do público: ​passa a ser ​um ​atributo do Estado e da política​,​ e​,​ nunca​,​ do mercado e da elite de proprietários.
Sem esclar​ecer ​essa pré-história​,​ a conjuntura atual é incompreensível. ​O​ golpe de 2016 é uma continuidade aprofundada e mais cruel dessa grande fraude brasileira que começa em 1930. Todos os golpes de Estado desde então tiveram exatamente o mesmo roteiro. No golpe recente não apenas se reverberou a mentira pronta de cem anos da corrupção dos tolos e do populismo. Sob o comando da ​R​ede ​G​lobo e da farsa da “​L​ava ​Jato"​ atacou-se também o próprio princípio da igualdade social como maior valor do ​C​ristianismo e da cultura ocidental.
O ataque seletivo ao PT, entre 2013 e 2016, como “organização criminosa”, narrativa criada pela ​R​ede ​G​lobo e depois assumida pela própria “lava a jato”, desnudando seu conluio midiático e elitista, é o principal elemento da conjuntura política atual.
Assim, além da criminalização da política e das lideranças populares, procurou-se criminalizar, também, a própria noção de “igualdade” como valor em si.
É que o PT, com todos os seus defeitos, foi a única verdadeira novidade da política brasileira nesses últimos cem anos. Um partido que nasceu, em grande medida, de baixo para cima, uma espécie de confederação de movimentos sociais e associações de trabalhadores do campo e da cidade, e que procurou assegurar uma pequena parte da riqueza social e do orçamento público também para a maioria mais carente. Ao criminalizar apenas o PT – enquanto nos outros partidos se “fulaniza” a corrupção – a mídia e a farsa da “lava jato” conseguiram rebaixar a própria demanda por igualdade, que o PT simbolizava para as classes populares​.​
​P​ara onde v​ão​ o ressentimento e a raiva que os excluídos sentem pela exclusão injusta? Sem expressão racional e política possível, a raiva e o ressentimento popular se transformam em massa informe de anseios, medos e desejos irracionais ​à​ procura de expressão. Esse é o verdadeiro pano de fundo para as eleições de 2018.
Jair Bolsonaro como ameaça real só é compreensível pela ação conjunta do conluio grande mídia/​R​ede ​G​lobo e ​L​ava ​J​ato. Por sua vez, a imunidade parcial de Lula é reflexo da inteligência prática das classes populares​,​ que percebem a política como jogo dos ricos e corruptos, e querem saber unicamente o que sobra para eles no final. E foi Lula quem entregou algo a quem nunca teve nada.
Apesar do sucesso pragmático inicial​,​ o golpe perde legitimação a cada dia. Seu planejamento míope e de curto prazo cobra agora alto preço dos que sujaram a mão pela elite do saque: a imprensa venal que arriscou seu capital de confiança; a casta jurídica que acobertou a ​L​ava ​J​ato e destruiu a segurança jurídica; e a política tradicional​,​ que perdeu qualquer legitimidade. Articuladores tão medíocres fizeram com que, pela primeira vez nestes cem anos de domínio material e simbólico da elite do saque, as entranhas do país real estejam ​à​ mostra como nunca dantes.
Tudo que era sólido se desfez no ar. Todas as ideias que colonizavam a ​D​ireita e a ​E​squerda também. As oportunidades abertas pelo fracasso na legitimação do golpe são revolucionárias. Elas podem, efetivamente, permitir expor a crueldade do domínio de uma elite mesquinha e de seus prepostos hipócritas na mídia e no aparelho de Estado. Abre-se a possibilidade objetiva de um processo de aprendizado histórico inédito no Brasil.
O problema real da oposição de “​E​squerda” é que ela foi criada neste mesmo jogo e, ainda pior, nas mesmas ideias. A ​E​squerda é tão miopemente moralista quanto a ​D​ireita. Também não possui ideias próprias acerca do funcionamento da sociedade nem do Estado. Daí ter perdido a narrativa da ascensão social, que ela mesma produziu, para as igrejas evangélicas. Daí ter aparelhado e dado força ​à​s instituições de Estado que​,​ depois​,​ a perseguiram com sanha assassina.
Como em toda crise radical temos agora em 2018 tanto a possibilidade do caos quanto a oportunidade do novo.
O discurso da E​squerda não pode ser o da volta ao passado, mas o do aprendizado de um novo futuro. O desafio é difícil mas incontornável.
​Jessé Souza​
​Sociólogo, foi presidente do IPEA e hoje dirige a Escola do Tribunal de Cintas do Município de São Paulo​

Ódio a Lula indica tendência do TRF-4

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), marcado para 24 de janeiro, é um jogo de cartas marcadas desde a condenação do petista pelo juiz Sérgio Moro, em julho de 2017, a nove anos e seis meses. Por isso, para os juristas Celso Antônio Bandeira de Mello e Pedro Serrano, a indicação de que a condenação será confirmada na segunda instância parece clara, já que códigos, leis e a Constituição se tornaram aspectos secundários para juízes e tribunais no Brasil de hoje.

“Se eu fosse dizer o que o Direito recomenda, seria a absolvição do Lula. Mas nós sabemos que o Direito no Brasil não está valendo muito. Agora o que vale são os ódios, as perseguições, o medo de que Lula seja eleito”, diz Bandeira de Mello. “É óbvio que, se ele for candidato, será eleito. Mas a Justiça não quer saber o que é justiça, o que não é. Ela está a fim de perseguir Lula. Nosso judiciário atual é perseguidor e não é mais isento como foi em outros tempos.”

Para Serrano, vários aspectos que permearam o processo contra Lula desde a primeira instância, incluindo a sentença de Moro, indicam os propósitos do sistema de Justiça brasileiro. “A impressão é que vão condená-lo, porque não houve um processo penal verdadeiro. Era uma condenação prévia. A forma como a defesa foi tratada na primeira instância, a qualidade da sentença, que é um absurdo, o revisor (desembargador federal Leandro Paulsen, do TRF-4), que ficou só seis dias com o processo. Tudo isso dá uma indicação ruim. Querem condenar para evitar que ele seja presidente, e não julgar o caso face à legislação”, afirma.

A condenação do petista por Moro “não foi apenas contra a lei e a Constituição. A condenação é incivilizada, é contra marcos mínimos de vida civilizada”, avalia Serrano. A intenção do sistema pode nem mesmo ser a de encarcerar o ex-presidente. “Não creio que queiram prendê-lo, querem impedi-lo de ser candidato. Ele sendo condenado, cria-se um canal para poder impedi-lo.”

Na opinião de Bandeira de Mello, o resultado do julgamento está circunscrito entre duas tendências. “Uma, a tendência do Judiciário de agradar a mídia, uma das tendências mais fortes do poder Judiciário. E a outra é o dever de fazer justiça. Qual delas vai prevalecer é impossível saber.”

Na opinião de ambos, as manifestações previstas para acontecer ao longo de janeiro podem influenciar os desembargadores federais do TRF-4, embora os magistrados do tribunal sediado no Rio Grande do Sul venham dando indicações de já terem formado sua “convicção” sobre a culpa de Lula.

“É possível que sim (que as manifestações influenciem em favor de Lula), porque o Judiciário não decide mais de acordo com as regras jurídicas, principalmente essa turma lá do Rio Grande do Sul. Hoje, esse negócio de ser juiz é coisa do passado. Agora o que vale é saber de que lado o sujeito está: se é do lado da perseguição ao Lula ou se é um juiz de Direito”, diz Bandeira de Mello. “Veja o Supremo. Custou tanto para o Supremo começar a reprovar as condições arbitrárias que começaram com esse juiz do Paraná (Moro). Estou falando 'juiz' porque é o cargo dele, mas esse homem não tem mentalidade de juiz. Tem uma mentalidade de perseguidor e de promotor.”

Para Serrano, o comportamento do sistema de Justiça diante das manifestações de janeiro em defesa de Lula é imprevisível. “Não se sabe qual o tamanho dessas manifestações. Em princípio, se nada for feito politicamente pela aplicação da Constituição, eles não vão aplicar e vão condenar Lula.”
Atos em defesa de Lula
Na última quinta-feira (21), a CUT divulgou calendário de atos e manifestações no mês de janeiro, nos dias que antecedem o julgamento de Lula pelo TRF-4. “Vamos defender Lula em Porto Alegre e em todo o país, com atos do dia 15 até o dia 24, porque defender Lula é defender a democracia, uma Justiça imparcial e abrangente e o fim da perseguição ao nosso ex-presidente”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas.