quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Voltaremos a ser o Brasil Colônia?



Resultado de imagem para trabalho escravo no brasil colonial
                                                                                    *José Álvaro de Lima Cardoso.       
        O Brasil atravessa uma crise dramática, como se sabe. Entre 2014 e 2016 a renda a renda per capita caiu quase 10%. O mercado de trabalho, especialmente para os trabalhadores mais pobres, piorou em 2016 em todos os seus indicadores. A deterioração do mercado de trabalho foi muito rápida, pois o Brasil havia terminado 2014 com a menor taxa de desemprego já registrada na história. Foi uma piora dramática, principalmente para os trabalhadores que ganham menos, os menos escolarizados, e os mais pobres. A cada mês no Brasil, mais de um milhão de trabalhadores são admitidos e mais de um milhão são demitidos. As empresas aproveitam a rotatividade da força de trabalho, para impor salários médios menores, conforme se pode constatar pelos dados do CAGED, que mostram que a diferença entre a média dos salários dos admitidos, que é sempre menor do que a média dos trabalhadores demitidos, aumenta na crise. O trabalhador que recebe até dois salários mínimos, e que no Brasil representa uma fração muito elevada dos trabalhadores, recebe imediatamente o impacto da crise econômica, seja no emprego, seja na redução do salário real.
          No Brasil os patrões e o governo estão utilizando a grave crise atual, para liquidar direitos em larga escala, e achatar ao máximo salários reais. Utilizando, como elemento de chantagem, os indicadores tenebrosos da indústria, comércio, nível de atividade, e outros. Nas mesas de negociação é muito comum o argumento patronal de que a não aceitação do reajuste salarial abaixo da inflação é para evitar as demissões. Dizem os patrões: “o que vocês preferem um percentual de reajuste menor que a inflação ou demissão de trabalhadores?” O problema é que, em regra, as demissões já ocorreram, de forma unilateral, e sem precisar condicionar à aceitação de um acordo rebaixado.
       Mas, assim como o processo de elevação da renda per capita, e outros indicadores das condições sócio econômicas, não são neutros, o empobrecimento dos brasileiros também não o é. O PIB brasileiro, mesmo com evolução negativa em determinado ano, representa produção de riqueza em valor superior a seis trilhões de reais (12 meses). Os bancos são exemplos (extremos é verdade) de que, mesmo na pior recessão da história do Brasil, os lucros podem ser exorbitantes. É só verificar o balanço dos bancos nos últimos anos, que foram de recessão: faturam rios de dinheiro em plena crise. É que eles não dependem da produção real de riquezas, já que não financiam a produção. O importante para os bancos, como credores, é a rolagem da dívida pública (portanto o patamar da taxa Selic) verdadeiro “negócio da China”.  
        Enquanto o grosso da população amarga queda do seu salário e taxas de desemprego em torno dos 18% (até mais, em algumas regiões), os credores da dívida pública levam 7% do PIB brasileiro, montante acima de R$ 400 bilhões anuais. Nenhum país gasta tanto com serviços da dívida no mundo, o Brasil é o paraíso dos rentistas no mundo. Quem vive da dívida pública não conhece dificuldades. Uma comprovação de que a crise não é igual para todos, é o de que, no Brasil os seis homens mais ricos detêm fortunas que, somadas, equivalem ao patrimônio de metade da população mais pobre do país, cerca de 100 milhões de pessoas. Os dados são do relatório da ONG britânica Oxfam. Esses seis empresários têm, juntos, cerca de US$ 79,4 bilhões (aproximadamente R$ 258 bilhões).
      Como desgraça pouca é bobagem, a pior recessão da história do país, veio numa conjuntura onde o governo golpista está numa escalada alucinada de destruição de direitos, nunca antes vista neste país. Querem aprovar, por exemplo, uma reforma trabalhista para retirar direitos, num país onde mesmo os direitos trabalhistas básicos são sistematicamente descumpridos. O modelo que querem implantar, de neoliberalismo ultra radical, fracassou em todas as partes do mundo. Mas, é bom sublinhar: fracassou enquanto saída para a crise. O modelo significa empobrecimento da população, aumento do desemprego, entrega das riquezas naturais e das estatais, redução da soberania nacional. Para os que estão implantando este tipo de política a “vitória do modelo” é exatamente essa: transferência dos efeitos da crise para as costas do povo trabalhador e conversão do país à condição de Brasil Colônia ou de um protetorado dos EUA.
                                                                                                           *Economista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário