sexta-feira, 7 de julho de 2017

O quebra-cabeça do golpe vai sendo montado


     

                                                                                                   *José Álvaro de Lima Cardoso.


     A Federação Única dos Petroleiros (FUP) recentemente exigiu a renúncia do presidente da Petrobrás, Pedro Parente, por “ilegitimidade na origem, destruição do patrimônio público e interesses escusos”. O pedido de renúncia se baseia, segundo documento da FUP, na “clara intenção de destruir a empresa”, pela "alienação patrimonial por preços irrisórios" e pela estratégia de "apequenamento da Petrobras".
     Segundo a FUP, enquanto Temer agoniza, a direção da Petrobrás continua vendendo os ativos da empresa à preço de banana. Recentemente a direção da Petrobrás colocou à venda de dois grandes campos de gás natural no Amazonas: Azulão, na Bacia do Amazonas, e o Campo de Juruá, na Bacia do Solimões. Em maio o presidente da Petrobrás tinha comunicado também a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e sua participação na Petrobras Oil & Gas B.V., na África. A Federação vem denunciando que a meta dos atuais gestores para a venda de ativos era de US$ 16 bilhões até 2016, mas já liquidaram quase US$ 50 bilhões até o momento. Entregaram partes de Carcará, Iara e Lapa, áreas do pré-sal que foram arrematadas pela norueguesa Statoil e pela francesa Total por valores irrisórios. Segundo informações da Federação, mais de 60% das sondas de perfuração que a Petrobras dispunha em 2013 já estão paradas, fazendo as reservas da empresa recuarem aos níveis que tinha há 15 anos atrás.
     São capítulos manjados de um conhecido roteiro: sucatear a empresa para vender seus ativos a preços irrisórios. Na década de 1990, nas privatizações do governo FHC, fizeram isso em larga escala. Em face da dificuldade política que seria colocar à venda a Petrobrás como um todo, pela importância e simbolismo que a empresa representa, estão loteando os ativos aos pedaços, à preços miseráveis. É uma estratégia que, se não for interrompida a tempo, em poucos anos tornará o Brasil um mero exportador de óleo cru, intenção destacada dos golpistas. O projeto é tornar o Brasil um fornecedor de matérias-primas para os países do centro capitalista. Não por acaso, a refinaria de Pasadena, já está à venda.
     Como a história é um carro alegre, a Lava Jato, instrumento político do golpe, acabou de ser desfeita como força tarefa (parece que só os membros da operação não sabiam que isso iria ocorrer). É que aconteceu algo que não estava nos planos: as denúncias alcançaram os chefes do golpe. Todos estão na cadeia ou caíram em desgraça, o que não estava no roteiro. Claro a operação só foi desativada, após retirar do poder uma presidenta inocente e contribuir decisivamente para o desmonte da economia brasileira. A operação esteve sempre em articulação com o Departamento de Justiça americano, e com as agências de espionagem americanas (NSA, a CIA, o FBI). Usaram todos os procedimentos ilegais possíveis: prisões arbitrárias, vazamento seletivo de delações de criminosos, desrespeito à presunção de inocência. Incendiaram a opinião púbica, contra pessoas delatadas, espalhando o ódio na sociedade, com a conivência do STF.
     Comparado ao verdadeiro custo do golpe, os R$ 6,2 bilhões que os membros da Lava Jato dizem ter descoberto em valores desviados por corrupção (valor superestimado pelos procuradores para valorizar a operação) não passam de “trocados”. Por exemplo, se compararmos com o custo da destruição do setor de engenharia nacional, que abriu espaços para os capitais norte-americanos e que liquidou cerca de mais de um milhão de empregos somente na construção civil, decorrência da brutal depressão econômica, alavancada pela Lava Jato. Talvez seja possível quantificar o custo dos quase três milhões de empregos formais incinerados em 2015 e 2016 em decorrência da Lava Jato, em valores monetários, mas é impossível quantificar o sofrimento humano que isso representa.
      Um dos interesses chaves do capital norte-americano no golpe, é a ampliação do acesso e o controle sobre fontes de recursos naturais estratégicos, em momento de queda da taxa de lucro ao nível internacional (terra, água, petróleo, minérios, e toda a biodiversidade da Amazônia). Mas há também todo um interesse geopolítico, de alinhar o Brasil com as políticas dos EUA, como ocorreu em outros golpes. Conforme o jornalista Pepe Escobar (O Brasil no epicentro da guerra híbrida, de julho de 2016), os países que compõem os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foram os primeiros alvos da Guerra Híbrida. Este conceito foi desenvolvido pelos militares norte-americanos, que pode ser definido, segundo o jornalista, como “a política é a continuidade da guerra por meios linguísticos”. Dentre as várias razões dos EUA para tentar destruir os BRICS, uma possivelmente foi decisiva: a ideia dos países do Bloco, de operar o comércio internacional utilizando suas próprias moedas, e não o dólar norte-americano.
     Certamente não foi por acaso que uma das primeiras medidas da coalização golpista foi aprovar o projeto de Serra que, na prática, acaba com a Lei de Partilha, promessa feita pelo senador à petrolífera norte-americana Chevron. Também não deve ter sido por coincidência a vinda para o Brasil, em agosto de 2013, embaixadora dos EUA, Liliana Ayalde, que tinha trabalhado no Paraguai entre 2008 e 2011, e saiu pouco antes do golpe parlamentar ocorrido naquele país. À medida que formos avançando na montagem do quebra-cabeça do golpe, as coisas ficarão ainda mais claras. É fundamental entendermos a complexidade do processo para interromper os danos ao Brasil e aos trabalhadores.  
                                                                                                                                   *Economista.
                                                                                            

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