sábado, 19 de agosto de 2017

Crise divide equipe econômica de Temer

Por Dayane Santos, no site Vermelho. Do blog do Miro.

Além de perder força junto ao Legislativo, com uma base aliada fragmentada, e ganhar uma impopularidade recorde, o governo de Michel Temer anda perdendo o controle de sua equipe econômica, demonstrando que o governo perdeu a coesão do discurso em meio a uma profunda recessão.

Ao discursar nos eventos oficiais, Temer faz questão de dizer que tem uma equipe “extraordinária” e que “agora o Brasil tem rumo”. Mas as declarações de representantes do governo revelam que a coisa não é bem assim.

Nesta quinta-feira (17), o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, disse que as desonerações previdenciárias, feitas pelo governo para salvar a pele de Temer contra a denúncia por corrupção passiva, contribuem para o deficit na Previdência Social.

“Quando se há uma desoneração de um determinado segmento, os trabalhadores [do setor beneficiado com desoneração], ao final da sua vida laboral, vão bater na Previdência e requerer da previdência social os mesmos benefícios dos demais”, afirmou Rachid, durante audiência pública da CPI da Petrobras, no Senado.

Enquanto não consegue emplacar a reforma da Previdência para reduzir direitos dos trabalhadores, Temer publicou medida provisória que alivia dívidas previdenciárias de produtores rurais e ainda reduziu a alíquota paga pelos produtores ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural).

Segundo Rachid, mais de 30% da massa salarial estão em setores beneficiados por essas “desonerações”, o que prejudica a previdência social que “é financiamento direto, e não deve ser usada como modelo de incentivo”.

Rombo fiscal

Diante do rombo fiscal, que subiu para R$ 159 bilhões, e das promessas feitas aos deputados para que eles livrassem Temer da denúncia de corrupção, a equipe econômica tem cada vez menos margem para tapar a cratera nas contas públicas.

Entre os motivos da demora em anunciar a revisão da meta fiscal está o pedido da articulação política do governo de segurar o anúncio. Mas a equipe liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que o governo perderia credibilidade junto ao mercado se não anunciasse a revisão.

Isso porque, segundo o colunista do G1 Gerson Camarotti, há grande risco de uma nova revisão da meta, desta vez para os R$ 170 bilhões, conforme especulações. “O argumento é que o desgaste seria de uma única vez”, disse ao jornalista um integrante da articulação do governo.

BNDES

Outro setor do governo que anda cabreiro é o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para barrar a prometida segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Temer dá sinais de que pretende utilizar os cofres do banco.

A equipe econômica acredita que tal medida possa comprometer ainda mais as contas públicas, que eles juram fechar em R$ 159 bilhões de deficit.

Para incrementar o caldo de tensões, o presidente do banco, Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta segunda-feira (14) que a economia está anêmica.

“A economia brasileira está anêmica, não há disposição para investimentos no mesmo ritmo que no passado. Esse apetite para o investimento deve ter caído no mínimo 30%”, disse ele, apontando a fraca disposição do empresariado brasileiro para investir em meio à crise.

Paulo Rabello disse que será uma surpresa se o total de empréstimos do banco este ano chegar a R$ 65 bilhões, muito abaixo dos R$ 88,3 bilhões de 2016.

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