quinta-feira, 31 de maio de 2012

Faxineiras e domésticas, categoria em extinção

31.05.12 - Mundo

Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Adital
Se você ainda dispõe de faxineira, cozinheira e∕ou lavadeira, considere-se privilegiado. Trata-se de uma categoria em extinção. As políticas sociais do governo Lula, agora implementadas também por Dilma, reduzem cada vez mais o número dessas trabalhadoras que transitam na intimidade de nossas famílias.
Dados do IBGE indicam que o Brasil conta, hoje, com 6 milhões de trabalhadoras domésticas que movimentam R$ 43 bilhões por ano. Por serem poucas e muito disputadas, entre 2002 e 2011 a renda média da categoria cresceu 43,5% acima da inflação, enquanto a renda média das demais categorias subiu 25%.
Apenas 28% das domésticas têm carteira assinada. Recebem em média R$ 508,17 por mês, o que equivale a 80% do salário mínimo (hoje em R$ 622). As que não têm carteira assinada representam 72% das profissionais, e recebem somente R$ 351,43 por mês.
Devido a leis que condenam o trabalho de crianças, há um progressivo "envelhecimento” das trabalhadoras domésticas. Nos últimos anos a idade media delas passou de 35 para 39 anos.
A categoria, agora, entra em extinção. Mingua a nova geração capaz de repor a atual mão de obra doméstica. Nas regiões mais pobres do país as meninas têm, hoje, acesso à escolaridade e preferem outras atividades profissionais.
O número de trabalhadoras no ensino médio quase dobrou entre 2002 e 2011. Passou de 12,7% para 23,3%. Apesar de níveis ainda baixíssimos, a proporção de empregadas com curso técnico ou superior cresceu 85%, saltando de 0,7% para 1,3%.
Se a oferta é sempre mais escassa, a demanda por empregadas domésticas cresce. Daí o progressivo aumento de seus salários e das diárias cobradas por faxineiras.
Por ser uma atividade praticamente invisível, atomizada pelas condições de trabalho, torna-se difícil organizar sindicatos ou associações de trabalhadoras domésticas, o que se reflete na precariedade de seus direitos.
A discriminação tem amparo na própria Constituição Federal. A elas é negada a plena cidadania. O artigo 7º assegura a todos os trabalhadores um total de 34 direitos fundamentais. No entanto, o parágrafo único do mesmo artigo garante às trabalhadoras domésticas apenas 10 desses direitos. Elas estão excluídas de proteções básicas como férias remuneradas, 13º salário, seguro desemprego, seguro acidente, remuneração por horas extras e limite máximo de jornada de trabalho.
Alguns desses direitos têm sido garantidos por legislação infraconstitucional. Há, contudo, resistência ao projeto de emenda constitucional que propõe excluir da Carta Magna o parágrafo discriminatório. Os opositores à emenda alegam que isso viria a encarecer o trabalho doméstico, argumento idêntico ao dos escravistas que se opunham à abolição.
[Frei Betto é escritor, autor do romance histórico "Minas do ouro” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org - Twitter:@freibetto.
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A trajetória de queda da Selic



DEBATE ABERTO


A redução da taxa de juros de juros deve ser encarada como uma verdadeira janela de oportunidade para que o nosso País efetue uma mudança de modelo. É fundamental que se aproveite a redução do custo do financiamento para ampliar os horizontes de investimento, em direção a uma nova sociedade, bem mais justa e sustentável.
Data: 31/05/2012
O encerramento da quarta do Comitê de Política Monetária (COPOM) de 2012, realizada em 30 de maio, parece confirmar uma opção do governo por uma trajetória mais consistente de queda da taxa oficial de juros, a SELIC.

A decisão anunciada foi de fixar a taxa em 8,5% a.a. pelos próximos 45 dias, quando acontecerá a próxima reunião do colegiado. Trata-se do nível mais baixo da taxa oficial de juros brasileira nas últimas décadas, o que daria uma taxa de juros real (descontada a inflação) em torno de 2,5%. Ou seja, ela ainda continua alta para os padrões internacionais, mas bem menor do que a média histórica da taxa real brasileira.

O primeiro momento do governo Dilma: ortodoxia
O acompanhamento da evolução da SELIC durante o governo da Presidenta Dilma nos revela a existência de dois períodos bastante distintos, contraditórios mesmo. No dia de sua posse, em 01 de janeiro do ano passado, a taxa SELIC estava em 10,75% a.a. Apesar da ampla expectativa no interior da sociedade por uma flexibilização na condução da política monetária, a opção do governo foi, ao contrário, pelo endurecimento.

Assim, as primeiras 5 reuniões do COPOM conferiram maior rigidez à política de juros. Não obstante as importantes mudanças na composição da diretoria do Banco Central (BC), o fato é que ao final de cada um desses encontros o Presidente Tombini vinha a público anunciar uma nova alta na SELIC. A taxa oficial subiu, portanto, dos 10,75% até atingir o pico de 12,50% em 20 de julho de 2011.

Esse período equivocado de juros extremamente elevados foi acompanhado por um hercúleo esforço fiscal, que se concretizava na geração de um superávit primário superior a 3% do PIB. Uma verdadeira loucura para um governo que havia se apresentado como uma alternativa à ortodoxia anterior. Afinal, Henrique Meirelles já não fazia parte da equipe econômica e Antonio Palloci seria demitido em junho de 2011. Mas a política econômica seguia sendo quase a mesma de antes.

Os cortes nas despesas orçamentárias para investimento e áreas sociais continuavam no mesmo ritmo anterior e a política cambial apresentava o nosso real bastante valorizado frente ao dólar norte-americano e demais moedas estrangeiras. Por estar com todas as atenções voltadas apenas para o controle dos índices de inflação, a equipe econômica terminou por se esquecer de enfrentar o fenômeno matador da desindustrialização e a perigosa redução na taxa de crescimento da atividade econômica. Tudo isso, porém, não foi por falta de aviso e crítica por parte dos muitos economistas e analistas que sugeríamos uma mudança de rota. A ficha parece ter caído no Palácio apenas quando veio à tona o anúncio oficial de crescimento do PIB para 2011: apenas 2,7%, um desempenho pífio e bem abaixo de nosso potencial.

O segundo momento: flexibilização
O segundo período na política monetária tem início em 31 de agosto do ano passado. Naquela reunião, o COPOM apresenta a primeira, daquelas que viriam a se constituir numa série de reduções da SELIC. A taxa é baixada para 12% e depois, sucessivamente, ela vai sendo diminuída por 7 reuniões consecutivas, até atingir os atuais 8,5%. A novidade importante que acompanhou a fase mais recente desse segundo período foi a mudança de postura de Dilma com relação ao setor financeiro privado. Isso se deveu à percepção evidente de que não bastava apenas o BC reduzir a taxa oficial. Trata-se de medida necessária, mas não suficiente, para provocar a retomada dos investimentos e o estímulo ao crescimento da economia. Depois de muitos anos de hesitação, finalmente o governo determinou aos bancos oficiais federais que baixassem suas elevadas margens de ganho. Medida tão óbvia, mas que vinha sendo eternamente adiada pelos responsáveis pela política econômica. Revela-se como o primeiro passo para promover uma redução generalizada nos absurdamente elevados “spreads” praticados pelo sistema financeiro. O BC reduzia a SELIC, mas nas operações bancárias com clientes (empresas e indivíduos) as taxas não eram reduzidas. Solução: injeção de uma boa dose de “mercado” neles, com Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal mudando os padrões da concorrência. E forçando uma baixa generalizada nos “spreads”.

Porém, os tempos na dinâmica econômica nem sempre obedecem ao ritmo do calendário político ou eleitoral. Como as medidas de rigidez ortodoxa haviam sido muito fortes no início de seu mandato, a recuperação da atividade da economia revelou-se mais lenta do que haviam prometido à Presidenta. E agora as expectativas para um crescimento do PIB de 4% em 2012 - número oficial anunciado pelo governo - parecem um tanto distantes. E dá-lhe asas à imaginação para criar e apresentar medidas que acelerem rapidamente a retomada, como esse problemático pacote de incentivos ao capital multinacional do setor automobilístico, entre outros. O fato inescapável é que não se constrói uma alternativa desenvolvimentista para o Brasil somente correndo atrás do prejuízs ou apelando apenas para o mero consumismo da população. Esse modelo não é sustentável no médio e no longo prazos, além de não criar raízes profundas para um novo País e uma nova sociedade. Termina apenas por reproduzir os modelos que falharam, quando implantados no chamado mundo desenvolvido.

Rumo ao novo modelo: investimentos
Não se consegue vislumbrar um horizonte de maior integração, maior sustentabilidade e melhor distribuição de renda sem que haja um novo ciclo de investimentos de vulto. E não se trata de se contentar ou mesmo comemorar (sic) a vinda de mais uma ou duas grandes montadoras de automóveis chinesas. O verdadeiro desafio a se enfrentar é a mudança de modelo, a criação de um novo paradigma na dimensão social e econômica. Nossas capitais e as grandes cidades estão chegando no limite de sua capacidade de transporte e mobilidade, e a solução de apenas introduzir ainda mais veículos para o transporte individual é irresponsável e inviável. Urge o investimento rápido e pesado em alternativas de transporte público.

Raciocínio semelhante pode ser feito para o escoamento da produção do agronegócio e das indústrias de transformação em geral. Apenas o incentivo à produção de mais caminhões, tal como previsto no recente pacote de bondades, apenas reproduz “ad infinitum” o modelo caro e irracional de transportar a produção através desse país de dimensões continentais na carroceria de caminhões, queimando óleo diesel e destruindo asfalto. Já passou do momento de nos voltarmos para o transporte multimodal, com ênfase na construção de ferrovias e o aproveitamento da navegação pelos nossos mais de 8 mil quilômetros de costa, sem contar os inúmeros rios navegáveis no interior do território.

Enfim, esses são apenas alguns de muitos exemplos das alternativas de desenvolvimento que estão a requerer investimento de monta. A atual fase de trajetória descendente da taxa de juros deve orientar-se para esse tipo de planejamento, onde o setor público deve desempenhar um papel essencial. Afinal, a experiência das últimas 3 décadas combinando momentos de crise e de crescimento errático nos mostrou que o setor privado não pensa no projeto de País. Essa tarefa cabe ao Estado, pois o chamado mercado tende a pensar pequeno e no curto prazo.

Investimento ou consumismo?
Como já tem sido dito à exaustão, recursos sobram e não faltam. O momento é de expandir o investimento. Ainda mais nessa conjuntura, em que os países do Hemisfério Norte encontram - eles sim! - profundas dificuldades para sair da crise. Pra nós a coisa é menos complicada – falta apenas vontade política. Basta redefinir a ordem de prioridade dos gastos públicos, confirmando as despesas de investimento do Estado como sendo de natureza fundamental. Aliás, há indícios de que alguns integrantes do primeiro escalão do governo já começam a se sensibilizar com a idéia de alterar o sacrossanto e imexível volume do superávit primário. Nada mais óbvio e urgente! Taxa SELIC em queda e diminuição das despesas financeiras da dívida pública abrem espaço para que, até mesmo os mais medrosos, passem a ousar um pouco mais.

Porém, a adoção de uma nova orientação ainda encontra resistência dentro da própria administração pública. Recentemente passou a ser comemorado o fato de que as metas de superávit primário do governo federal estão sendo muito bem executadas, obrigado. Até o mês de abril , o governo federal havia realizado quase metade da meta de todo o ano! Ou seja, estava cumprindo à risca, ao longo do primeiro quadrimestre, a política irresponsável de torrar recursos federais para pagar juros da dívida e de recusar a aplicação de recursos para a área de investimentos. Afinal, como o Orçamento da União prevê mais de 40% do total de seus recursos para despesas com juros e serviços financeiros de rolagem da dívida, é só deixar se levar pela inércia e observar o barco andar sozinho, mas à deriva.

Portanto, a redução da taxa de juros de juros deve ser encarada como uma verdadeira janela de oportunidade para que o nosso País efetue uma mudança de modelo. O caminho mais fácil e mais perigoso é o de nos contentarmos com os efeitos de taxas de juros mais baixas exclusivamente sob a ótica do consumo, mais consumo e ainda mais consumo. É preciso superar o discurso ilusionista de um certo encantamento com a chamada “nova classe média”, onde a felicidade dar-se-ia apenas pela reprodução dos padrões de consumismo de um modelo que revelou-se fracassado. É fundamental que se aproveite a redução do custo do financiamento para ampliar os horizontes de investimento, em direção a uma nova sociedade, bem mais justa e sustentável, rompendo com esse atalho simplista e demagógico de reprodução dos equívocos do passado.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Entrevista capital

http://youtu.be/wx7w2BQeUIQ

Parte de entrevista com João Pedro Stédile: informações imprescindíveis

http://youtu.be/N1JoyLrygp8

Embaixada da Venezuela repudia declarações de Gilmar Mendes



A embaixada da Venezuela divulgou nota oficial repudiando as declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro, Gilmar Mendes, que, em entrevista ao jornal O Globo disse que "o Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, mandou até prender juiz". As declarações, diz a nota, "constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país".
Data: 30/05/2012
Brasília - A embaixada da Venezuela divulgou nota oficial nesta quarta-feira repudiando as declarações do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, Gilmar Mendes, que, em entrevista ao jornal O Globo disse que "o Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, mandou até prender juiz". A nota oficial da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela afirma:

As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes ao jornal O Globo, se de fato ocorreram, constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país.

Nossa Constituição, elaborada pela Assembleia Constituinte e referendada pelas urnas, determina a separação de poderes, estabelece direitos de cidadania e configura os instrumentos judiciais cabíveis, ou seja, o presidente da Venezuela não manda prender cidadão algum, independentemente do cargo que ocupe.

Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa - ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã - e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela.

Maximilien Arveláiz, embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil

Aumento do salário mínimo ameaça competitividade chinesa


O aumento do salário mínimo chinês, decretado pelo governo, deverá estimular mais indústrias a saírem do país em busca de mão de obra mais barata em países do sudeste asiático, segundo preveem analistas ouvidos pela BBC Brasil.
O 12º Plano Econômico Quinquenal de Pequim anunciou recentemente um aumento anual de 13% do salário mínimo até 2015 nas províncias chinesas, com o objetivo de garantir a estabilidade social pela diminuição da diferença entre a renda de ricos e pobres. Segundo o Conselho Nacional do Congresso chinês, os 10% mais ricos do país ganham 23 vezes mais do que os 10% mais pobres.

O governo anunciou também o aumento do limite de isenção de Imposto de Renda de 2 mil yuans (R$ 660) para 3,5 mil (R$ 1,155).
Para Tom Miller, da consultoria GK Dragonomics, essa mudança de perfil "já vem ocorrendo há três anos e, em uma década, deveremos ver o fim da China barata", algo que deve afetar o preço das exportações do país e a dinâmica da competitividade global no futuro.

Indústria mais cara

A mudança de filosofia que vem sendo introduzida por Pequim prevê um foco menor no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e mais ênfase a aumento dos benefícios sociais, como seguro de saúde e alongamento da licença maternidade de 90 para 98 dias.
Estima-se que esses acréscimos elevem em 20% o custo de mão de obra. Isso deve ter um impacto negativo na competitividade de produtos fabricados por certos setores da indústria chinesa que, desde a reforma econômica de 1979, vem se notabilizando pela produção em massa a custos baixos.
"Está ficando mais caro produzir na China, porque há mais oportunidades de trabalho", explica Shaun Rein, autor do livro The End of Cheap China (O Fim da China Barata, em tradução livre).
De acordo com Rein, a expansão do setor de serviços acaba elevando gerando nos operários chineses a expectativa de também receber salários mais altos.
Em abril deste ano, a primeira ação coletiva para aumento de salário foi vencida em Dalian, no noroeste da China. Cem mil trabalhadores da indústria de software local assinaram um novo contrato que prevê o aumento dos vencimentos em 6%. O acordo abrange 500 companhias e 70% da mão de obra do setor.

Inflação mundial

Segundo Rein, a iniciativa do governo de elevar o nível salarial do operário tem criado discrepâncias. "Muitos profissionais graduados ganham hoje menos do que um trabalhador da indústria", diz.
Um exemplo é o concorrido posto de catador de lixo em Guangzhou, que oferece salário mensal de 4 mil yuans (R$ 1.320) – enquanto isso, a média de salário de um jovem recém-formado é de cerca de 2,5 mil yuans (R$ 825).
E de acordo com Rein, os efeitos também serão sentidos no exterior, com produtos mais caros. "As mudanças do estilo de crescimento e as políticas governamentais concedendo maiores direitos aos trabalhadores vão criar uma força inflacionária mundial."
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento do centro-oeste e do norte da China tem tirado do rico leste centenas de milhares de trabalhadores migrantes, atraídos por novos empregos em províncias centrais mais próximas a suas casas.

Em Guangdong, a estimativa é de que, neste ano, haja um deficit de 800 mil trabalhadores na chamada "indústria barata" - setores de calçados, têxtil e alimentos, conforme o departamento provincial de recursos humanos.
O brasileiro Otávio Oliveira, que trabalha no grupo americano de calçados Camuto, diz que 15% das operações da empresa já saíram de Guangdong para diferentes áreas. "E estamos analisando oportunidades em outros países da Ásia também. Esta é uma tendência irreversível no segmento do calçado", diz Oliveira.
Ele conta ainda que muitos de seus fornecedores perderam funcionários para a indústria eletrônica, que é altamente incentivada por Pequim por ser uma indústria "mais limpa" e que força a especialização da mão de obra. "Por vezes enfrentamos atrasos e problemas de qualidade no nosso produto porque as fábricas simplesmente não conseguem cumprir as datas por não terem funcionários suficientes."

Salário mínimo menor

Com os salários na China crescendo em ritmo duas vezes superior ao do PIB, o país perde competitividade no mercado internacional e, com isso, muitas empresas resolvem levar seus centros de produção para outros países.
Vietnã, Indonésia e Malásia têm a média do salário mínimo 30% inferior à da China, aponta estudo de 2011 da consultoria KPMG.
O documento mostra que os efeitos do aumento do custo de um empregado na China foram maiores para os setores de calçados (que se deslocou para Indonésia, onde as exportações cresceram 42% e chegaram a US$ 1,2 bilhão em 2011); e vestuário e têxtil (movido para Bangladesh, com um crescimento nas exportações de 43%, US$ 18 bilhões).
"Os nossos grandes competidores, em termos de custo de produção, são outros países da Ásia, como Indonésia, Vietnã, Índia, Camboja e, recentemente, América Central", revela Oliveira. "A Camuto ainda consegue crescer 20% o valor anual das exportações graças à transferência de produção do Brasil para China e também ao crescimento da companhia no mercado americano", acrescenta ele.

Competitividade e impacto no Brasil

Outro efeito do encarecimento dos produtos exportados pela China é um possível ambiente mais competitivo para a indústria global.
Mas, para Oliveira, a abertura de fábricas em lugares ainda baratos, como Vietnã e Camboja, dificulta a expansão calçadista brasileira.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), até abril deste ano o Brasil exportou 1,3% a menos de pares em relação a 2011.
Cristiano Korbes, diretor de projetos internacionais da Abicalçados, defende que o futuro da indústria calçadista brasileira está na valorização da moda conceitual do país. "A competição com a China é muito forte, mas temos capacidade de levar aos consumidores não apenas produtos, mas conceito, estilo de vida brasileiro e muita moda 'Made in Brazil'."
Outro ponto a ser desenvolvido no país é a infraestrutura da cadeia industrial: "O Brasil precisa ainda resolver questões de estrutura, logística, e esse esforço a China já fez", aponta Korbes.

Sindicato negocia lay off para evitar demissões na Mercedes

Do boletim eletrônico Repórter Sindical.

A queda nas vendas de caminhões e ônibus já está afetando a produção das montadoras, que começam a fazer ameaças de demissão em massa.
Ontem (29), o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou que, para evitar a demissão de 1.500 trabalhadores na Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, negociou a suspensão temporária de contrato de trabalho para qualificação profissional dos afastados, com garantia de ganho mensal, conforme o Artigo 476 da CLT.
Pelo acordo, os trabalhadores ficarão em casa por cinco meses. Eles receberão bolsa mensal de R$ 1.163,00 do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), para frequentar curso de qualificação no Senai. O valor será complementado pela empresa, até o total equivalente ao salário líquido. Os trabalhadores terão os seus direitos trabalhistas preservados.
Presidente do Sindicato, Sérgio Nobre, o lay off foi o melhor caminho encontrado para evitar as demissões. “Uma solução como essa deixa os trabalhadores mais tranquilos”, disse.

Mercado interno para quem?



O mercado interno é o maior ativo que a economia de um país pode possuir; sua magnitude é
definida por seu Produto Interno Bruto (PIB), pela soma dos salários, dos lucros e das rendas
do capital. Foi buscando aproveitar esse mercado que os desenvolvimentistas brasileiros
defenderam nos anos 1950 o modelo de industrialização por substituição de importações. Foi
procurando ampliar esse mercado interno que, a partir do fim dos anos 1960, esses mesmos
economistas, vendo que o processo de substituição de importações se esgotara, apoiaram o
exitoso processo de ampliação das exportações de manufaturados que, concomitantemente,
aumentou o mercado interno. Hoje, depois de muitos anos de baixas taxas de crescimento e de
queda da participação dos manufaturados nas exportações totais, coloca-se novamente o
problema do aproveitamento e da ampliação do mercado interno.
No mundo atual, as economias são muito mais abertas que no passado; competir em pé de
igualdade pelos mercados de manufaturados (leia-se bens com maior valor adicionado e que
incorporam e disseminam maior progresso técnico para o restante da economia) é necessário
para o aumento da produtividade e o alcançamento de taxas mais elevadas de
desenvolvimento econômico. Dado que não faz sentido voltar a reduzir o coeficiente de
importações, o desenvolvimento econômico brasileiro será limitado pela taxa de crescimento
das exportações.
Entretanto, uma parcela dos economistas brasileiros defende uma estratégia de crescimento
wage-led, baseada no aumento dos salários. Preferem conviver com a sobreapreciação cambial
existente, porque o custo de se colocar a taxa de câmbio no nível de equilíbrio (a do equilíbrio
industrial, que torna competitivas as empresas industriais eficientes) implicará alguma redução
dos salários reais e em aumento da inflação (ambos temporários). No fundo, querem voltar ao
modelo de substituição de importações, mas não propõem as altas taxas aduaneiras que seriam
necessárias para voltar a uma estratégia desse tipo, incompatível com o estágio de
desenvolvimento do Brasil.
34% do incremento da demanda agregada no Brasil foi atendido por importações nos anos
de 2010 e 2011
A estratégia de desenvolvimento não deve ser export-led ou wage-led, mas growth-led; deve
propiciar oportunidades de investimento lucrativas para os empresários que garantam uma
taxa de crescimento satisfatório. Se o patamar de crescimento é insatisfatória, como acontece
agora, este fato é causado principalmente por uma taxa de câmbio apreciada e uma taxa de
juros alta em termos reais, que resultam em baixas oportunidades de investimento lucrativos
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para as empresas industriais - justamente aquelas que proporcionam maior valor adicionado
per capita.
Como, a partir de 2004, a economia brasileira pareceu haver retomado o crescimento baseado
em uma estratégia do tipo wage-led - baseada no aumento real do salário mínimo, na Bolsa
Família e no crédito consignado, enquanto a taxa de câmbio se apreciava fortemente - surgiu a
tese de que seria possível para a economia brasileira crescer a partir da expansão do consumo
no mercado interno, não havendo necessidade de se depreciar a taxa de câmbio.
Aquele crescimento, porém, só foi possível porque uma economia mundial aquecida antes da
crise elevou os preços de nossos produtos exportados, principalmente das commodities (160%
entre 2002 e 2008, enquanto os preços das exportações de manufaturados cresceram 53% no
mesmo período), fato que possibilitou à economia brasileira financiar o aumento das
importações decorrente desta estratégia sem gerar um desequilíbrio significativo no saldo em
transações correntes.
Mas a continuidade desse modelo é inviável, primeiro, porque o cenário externo não permite
continuar a contar com o aumento do preço das commodities, e, segundo, porque o câmbio
sobreapreciado faz com que o mercado interno seja suprido por importações: com uma
pequena defasagem esse mercado interno foi entregue de graça aos exportadores de outros
países, principalmente aos chineses, e a indústria brasileira entrou em crise. As exportações de
manufaturados, calculadas em quantum, estão em declínio desde 2007, sendo que em 2011
foram 15% inferiores às daquele ano, enquanto o quantum das importações de manufaturados
aumentou 59% no mesmo período.
Os dados das Contas Trimestrais a preços constantes mostram que, em média, 34% do
incremento da demanda agregada no país foi atendido por importações nos anos de 2010 e
2011, enquanto esse percentual foi de cerca 10% entre 2000 e 2005. Não é a magnitude deste
percentual que impressiona, mas a velocidade da elevação das importações nos últimos anos.
Enquanto a produção industrial encontra-se praticamente no mesmo patamar que vigorava
antes dos reflexos mais significativos da crise no Brasil (a média de 2011 foi 2,7% superior à
média de 2008), o volume de vendas do comércio varejista foi 25,3% superior na mesma base
de comparação. Graças ao último aumento do salário mínimo, o mercado interno brasileiro
continua grande, mas não está dando emprego para brasileiros, e sim aos exportadores de
manufaturados para o Brasil.
Não se trata, portanto, de adotar uma estratégia "export-led" ao invés de "wage-led". Trata-se
de defender uma estratégia "growth-led", uma estratégia que garanta o crescimento do
mercado interno e dos salários de 5% a 6% ao ano ao invés de a 3% como voltou a acontecer
depois do boom das commodities. O limite desse crescimento é o do crescimento das
exportações. Alcançar esse crescimento graças aos preços das commodities não é mais
realista; tentar transformar o Brasil em uma grande fazenda é uma loucura. Felizmente, a
presidente Dilma Rousseff parece ter entendido isto e está gradualmente tirando a economia
brasileira da armadilha dos juros altos e do câmbio sobreapreciado.

Sucessão no Ipea


Valor Econômico, 29/05/2012

Oreiro ganha apoio de partidos para presidir Ipea
A presidente Dilma Rousseff deve optar por uma terceira via para a sucessão de Márcio
Pochmann na presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Diante do
impasse criado pelo veto de Pochmann ao nome que seria a sucessão natural e era dado como
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certo, o assessor especial da Secretaria de Assuntos Estratégicos, à qual o Ipea é subordinado,
economista Ricardo Paes de Barros, e a indisposição da presidente Dilma Rousseff de nomear
sugeridos por Pochmann, ganha força na Presidência a indicação do economista José Luis
Oreiro. O nome do economista da Universidade de Brasília (UnB) foi sugerido a Dilma na
semana passada pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
Além de endossar a indicação, Aldo Rebelo também deve tratar do assunto entre hoje e
amanhã com o vice-presidente Michel Temer, de forma a aproximar Oreiro do partido de
Moreira Franco, o PMDB. A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, liderada por
Henrique Eduardo Alves, convidou Oreiro para uma reunião amanhã no Congresso. Além do
PC do B de Rebelo e do PMDB, Oreiro também se aproxima do PT. Ontem, o economista
participou de jantar com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), no Rio de Janeiro. Outro aliado
de Oreiro é o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Na área econômica pesa também a favor de Oreiro o apoio da economista Gina Paladino, que
foi diretora da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e é próxima de Luciano Coutinho,
o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Depois de presidir o Ipea por cinco anos, Marcio Pochmann vai deixar a instituição para
concorrer pelo PT à Prefeitura de Campinas nas eleições de outubro. Para isso, Pochmann se
desincompatibiliza do Ipea na semana que vem. A decisão de Dilma será tomada até o fim
desta semana. Pochmann deve ir hoje ao Planalto tratar de sua sucessão. Dilma esperava
definir os vetos ao Código Florestal para discutir o Ipea, e espera resolver o assunto antes de
sua agenda ser tomada por questões envolvendo a conferência Rio + 20.
Os três nomes indicados por Pochmann (Vanessa Petrelli, Leda Paulani e Jorge Abrahão) não
entusiasmaram Dilma, que já decidiu também negar a candidatura Paes de Barros, apoiada
pelo ministro Moreira Franco, chefe da SAE. Dilma gosta muito de Paes de Barros, que
formulou os programas Bolsa Família, Brasil Sem Miséria e Brasil Carinhoso. Dilma
comunicou a Moreira Franco na semana passada que prefere Paes de Barros na SAE, e não na
presidência do Ipea. Além disso, Pochmann vetou o nome de Paes de Barros.
Francamente heterodoxo em economia, como a própria presidente, conta a favor de Oreiro o
fato de o economista ser próximo também de tucanos e economistas ortodoxos, segundo
interlocutores de Dilma no Planalto. A avaliação do governo é que o Ipea, depois de cinco
anos sob Pochmann, oriundo da sociologia de esquerda e do sindicalismo, precisa ficar sob a
liderança de um presidente "com contatos dos dois lados do balcão", uma orientação mais
técnica, segundo uma fonte no Palácio do Planalto.
Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Oreiro é mestre em economia pela
PUC-Rio, e doutor pela UFRJ.

Bancários citam oligopólio e criticam eventual compra de Santander por Bradesco



29/5/2012

Uma eventual compra do Santander Brasil pelo B
radesco aumentará a concentração do setor financeiro, o que dificulta a queda do juro e prejudica a sociedade em geral. Essa é a opinião da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. 

As duas entidades sindicais divulgaram nota oficial nesta segunda-feira (28) ressaltando preocupação com as negociações entre os dois bancos, ainda restritas aos bastidores do sistema financeiro. A venda das operações brasileiras pela matriz espanhola ajudaria o Santander a tomar fôlego para enfrentar a crise bancária européia.

“A prática de mercado nos mostra que quanto mais concentrado um setor maior sua capacidade de determinação de preços abusivos. O preço cobrado pelos bancos do consumidor é o juro, portanto qualquer processo que intensifique a concentração no setor certamente estaria na contramão das recentes medidas do governo brasileiro de redução das taxas de juros praticadas no país, condição fundamental para a continuidade do processo de desenvolvimento econômico”, diz a nota.

Segundo informações dos sindicatos, as fusões e aquisições de empresas financeiras vem se acentuando nas duas últimas décadas. Em 1999, os seis maiores bancos (BB, Caixa, Bradesco, Itaú, Unibanco e Banespa) concentravam 59% dos ativos totais do Sistema Bancário Brasileiro do Banco Central. Em 2011, ou seja, doze anos depois, os seis maiores bancos (BB, Itaú-Unibanco, Bradesco, CEF, Santander e HSBC) passaram a concentrar 81% dessa base de cálculo.

A tendência seria a mesma com relação às operações de crédito. Enquanto em 1999 os seis maiores bancos possuíam pouco mais de 60% do total de operações de crédito do setor, em 2011 essa participação chegaria a 83%. “Tais números são suficientes para caracterizar o setor bancário brasileiro como um oligopólio”, aponta o texto.

“O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não pode permitir um processo de fusão/aquisição que gere tamanhos danos para a sociedade brasileira, principalmente no momento em que existe enorme necessidade de que o setor financeiro contribua definitivamente para o desenvolvimento econômico com distribuição de renda e justiça sócia”, finaliza a nota.

(Fonte: Carta Maior)

terça-feira, 29 de maio de 2012

No corpo a corpo, Banco Central tenta esfriar onda de pessimismo



28 de maio de 2012

Valor Economico (SP)
Por Lucinda Pinto

Em resposta à forte onda de pessimismo que invadiu os mercados financeiros nas últimas semanas, o Banco Central (BC) iniciou uma estratégia para balizar as expectativas. Na última semana, analistas situados em Nova York foram chamados pela autoridade monetária para conversas privativas - em alguns casos, com o próprio presidente do BC, Alexandre Tombini. O objetivo dessa ação seria tentar conter o viés mais negativo que passou a dominar os relatórios produzidos pelas instituições financeiras nos últimos dias e que claramente afetou os preços dos ativos no mercado local. O saldo das conversas, segundo relatos de participantes dos encontros, é a mensagem do BC de que a atividade vai começar a responder aos estímulos no segundo semestre. Essa previsão, somada à preocupação de que o dólar avance para cima dos R$ 2,00 de forma permanente, confirma a ideia de que a parcimônia vai conduzir as próximas decisões de política monetária do BC.
"O BC vendeu muito pessimismo em agosto, para justificar suas decisões de política monetária, e talvez isso tenha contribuído para esfriar ainda mais a economia", explica um dos profissionais convidados para um encontro pessoal com a autoridade monetária. "Agora, o BC quis passar mais otimismo, o que parece estranho em um momento em que o mundo claramente está em deterioração".
Justamente por ser um discurso com alguma "contradição" em relação ao atual momento global, o especialista diz que essa "estratégia" deve ter ajudado a confundir a curva de juros, que oscilou bruscamente na última semana. A taxa Selic em 8% passou a ser considerada um "piso", depois de um período em que as apostas se consolidavam mais perto de 7,50%.
Segundo relato do analista, o resultado do alívio monetário em curso provavelmente será percebido em breve, provavelmente no segundo semestre. "Há coisas domésticas atrapalhando o canal do crédito e, na visão do BC, essas travas já estão sendo retiradas", afirmou outro profissional, que também manteve contato com o BC. "A mensagem da parcimônia ficou bem clara em todo o tempo, tanto na questão dos juros quanto na do câmbio", afirma.
"A visão da autoridade monetária é a de que o dólar está bom, mas que agora já 'está bom'", relata uma fonte ligada ao governo, confirmando a visão de que BC e Fazenda estão satisfeitos com o nível do dólar atual. Ou seja, que suas atuações por meio de contratos de swap cambial pretendem, sim, garantir que a moeda não avance para cima dos R$ 2,10. "O BC quer dosar a evolução do dólar, e para isso é preciso dar saída ao investidor", afirma a fonte. "O que o BC não poderia fazer neste momento é se omitir, como aconteceu em 2008", explica. Ele lembra que o endividamento externo privado é elevado - de cerca de US$ 165 bilhões, segundo último dado disponível no BC, referente ao fim de 2011 - e uma desvalorização cambial abrupta e intensa pode ser uma dificuldade importante para as empresas.
Uma situação dramática, como a saída da Grécia da zona do euro, poderia, na visão dos especialistas, trazer uma pressão extra sobre a moeda. Nesse caso, não há dúvidas de que o BC atuaria vendendo reservas. "O BC tem dito repetidamente que as reservas existem para ser usadas", afirma a fonte. "Mas, neste momento, o que ele está fazendo é mostrar que pode oferecer o hedge necessário para quem está exposto ao câmbio."
A movimentação do Banco Central ocorre justamente no momento em que instituições financeiras, em especial estrangeiras, têm afirmado em relatórios que a fraqueza da economia brasileira começa a tirar o país da condição de "queridinho" do mercado global. A leitura é de que o dinamismo da economia doméstica garantia uma certa proteção do mercado local diante das turbulências externas. Com a retração da atividade, confirmada pelo último IBC-Br, espécie de indicador antecedente do PIB calculado pelo BC, essa "âncora" teria sido perdida. O excesso de intervenções por parte da Fazenda, tanto na política monetária quanto na cambial e no sistema financeiro, amplia ainda mais o tom negativo traçado por esses analistas.
É bom lembrar que, na sexta-feira, será divulgado o resultado oficial do PIB do primeiro trimestre. O BC parece estar atento ao efeito negativo que esse número pode provocar nos negócios. E quer dar um sinal mais claro ao mercado de que, a despeito da piora que se vê no exterior, a hora é de manter a parcimônia. "Acredito que o BC até poderia ser mais agressivo no corte de juros se houver uma ruptura no exterior. Mas, antes disso, a orientação parece ser a da parcimônia", conclui um analista.

Consumo migra e afeta mais a indústria


Autor(es): Denise Neumann
Valor Econômico - 28/05/2012
 

Os dados de varejo, crédito e inadimplência dos primeiros meses do ano levaram muitos analistas a cravar que a economia brasileira vive um esgotamento do ciclo de consumo que sustentou o crescimento do PIB nos últimos anos. Esse é um ponto controverso.
Os dados da principal pesquisa de consumo do país - a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE - apontaram um expressivo crescimento do volume de vendas no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2011, feitos os ajustes sazonais. A alta foi de 3% e, na última vez em que o crescimento das vendas do varejo foi tão expressivo, o consumo das famílias dentro do PIB cresceu 2% e ajudou a puxar o desempenho do conjunto da economia, que ficou em 1,1%.
Quando se coloca uma lupa sobre os dados do varejo e do crédito percebe-se que houve uma migração do consumo. Talvez ela não explique toda a desaceleração no mercado de automóveis, mas que ela aconteceu, aconteceu. No primeiro trimestre, o volume de vendas no comércio de automóveis cresceu 1% em relação ao mesmo período de 2011, segundo o IBGE. Na mesma comparação, as vendas nos supermercados foram 11,9% superiores, enquanto as de eletrodomésticos e móveis ficaram 15,9% maiores e as de bens de informática cresceram 32%.
Esses não são, em hipótese alguma, números que sustentem a tese de esgotamento da capacidade de consumo das famílias brasileiras. O mesmo crédito que recuou para os automóveis no primeiro trimestre (com queda de 7% nas novas concessões, segundo dados do Banco Central relativos ao período janeiro-março de 2011 e 2012) aumentou 80% para os outros bens.
No auge do Plano Real, os fabricantes brasileiros de televisores ficaram impressionados com o boom no consumo desses aparelhos e aumentaram muito a capacidade instalada de suas fábricas. Entre 1986 e 1993, o país vendeu em média 2 milhões de aparelhos/ano, número que cresceu vertiginosamente e bateu recorde de 9,6 milhões em 1997. Na época, imaginou-se que esse era o novo padrão de consumo brasileiro, mas logo os fabricantes perceberam que o volume daqueles anos foi uma resposta à demanda reprimida. Uma vez atendida, a demanda acomodou-se. Em 2010 e 2011 (15 anos depois daquele auge do Plano Real), foram vendidos 12 milhões de televisores. Pensar na evolução recente do mercado de automóveis como demanda reprimida faz todo sentido.
Mudança na demanda atrapalhou menos a importação
Em evento na semana passada, a economista Monica Baumgarten de Bolle, sócia-diretora da Galanto Consultoria, destacou que a dívida das famílias representa 20% do PIB, muito abaixo do patamar de países como EUA (91%), Espanha (90%) e Polônia (38%), segundo dados citados por ela. Ou seja, tem espaço para crescer, mesmo considerando que a renda da família brasileira seja bem menor que a desses países. As contas do endividamento no Brasil também embutem um hábito mais recente das famílias, que é o de trazer para o cartão de crédito as despesas correntes (supermercado, combustíveis e mesmo o almoço do meio da semana, aproveitando assim as políticas de milhagem).
Felizmente, e infelizmente por outro lado, foi o consumo que continuou a puxar a economia no primeiro trimestre, só que agora ele favoreceu mais outros segmentos do varejo em detrimento do de automóveis.
A parte da "infelicidade" é que essa migração do objeto do consumo das famílias afetou ainda mais a produção da já combalida indústria de transformação, porque o consumo se concentrou em segmentos muito abertos à competição de produtos importados, como eletrodomésticos e bens de informática. A indústria produziu 3% menos no primeiro trimestre em relação aos primeiros três meses de 2011 e 0,5% menos na comparação com os últimos quatro meses de 2011. E essa contração foi puxada pelos bens de capital e pelos bens duráveis. No primeiro trimestre, enquanto a produção de bens de capital caiu 11,4%, a importação dos mesmos bens subiu 4,3%; e enquanto a produção de bens de consumo duráveis encolheu 11,3%, a importação caiu bem menos, 5,2%.
O gráfico abaixo mostra como o movimento de descolamento entre o rumo da produção doméstica no setor de transformação e o volume de vendas no varejo ampliado continuou constante neste início de 2012, indicando que é mesmo controversa a tese de que o modelo de crescimento econômico baseado no consumo das famílias já se esgotou. Entre março de 2011 e março deste ano a distância entre os dois pontos (varejo e indústria) passou de 62 para 77 pontos - e era de apenas 25 pontos antes da crise de 2008.
O consumo está meio cansado e tomou alguns rumos diferentes, mas ainda tem fôlego. Ainda mais diante dos aumentos reais de salários. E pode ser que o consumo das famílias seja nota que surpreenda o "mercado" quando o PIB do primeiro trimestre de 2012 for divulgado na sexta-feira. O investimento vai cair, mas não se pode esperar o mesmo da demanda das famílias. Ela pode surpreender - como no terceiro trimestre de 2011, quando a maioria dos analistas não esperava uma demanda tão fraca, mas ela estava lá, pré-anunciada no resultado do varejo do IBGE. Só que desta vez, a surpresa seria para cima.
O crescimento do primeiro trimestre e também o do ano será fraco, mas não pelo consumo interno e sim pelo investimento, pela demanda externa e pela produção industrial e agrícola, esta última afetada pela seca no Sul e no Nordeste.
Denise Neumann é editora de Brasil e escreve excepcionalmente nesta semana

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Weisbrot: Cobertura da mídia sobre a Argentina esconde o essencial



publicado em 5 de maio de 2012 às 12:34
por Luiz Carlos Azenha
Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas de Washington (CEPR) escreveu um interessante artigo para o jornal britânico Guardian a respeito do que “especialistas” consultados pela mídia falam sobre a Argentina. Resumo: o espetacular crescimento econômico do vizinho seria resultado do boom das commodities, notadamente da exportação da soja.
Weisbrot apontou como exemplo, entre outros, este artigo do New York Times, do qual destacou o trecho:
Navegando num boom de exportação de commodities como a soja, a economia da Argentina cresceu em média 7,7% de 2004 a 2010, quase o dobro da média anual de 4,3% do Chile, um país geralmente citado como modelo de políticas econômicas.
Weisbrot argumenta que a cobertura da mídia sobre a Argentina, especialmente em tempos de nacionalização da petrolífera YPF pela presidenta Cristina Kirchner, esconde o essencial:
O mito do boom das commodities é uma forma dos detratores da Argentina classificarem o crescimento econômico do país como fortuito. Mas a realidade é que a expansão econômica foi liderada pelo consumo e investimento domésticos. E aconteceu porque o governo argentino mudou a maioria das suas escolhes macroeconômicas mais importantes: políticas fiscal, monetária e de câmbio. É o que tirou a Argentina da depressão enfrentada entre 1998-2002 e a transformou na economia que mais cresce nas Américas.

Agora sobre a significância mundial do verdadeiro motivo da recuperação da Argentina: como eu e muitos outros economistas escrevemos, as políticas atualmente impostas às economias da eurozona — especialmente as mais fracas — são similares às da Argentina durante a depressão, que levaram à moratória e à desvalorização do peso. Aquelas políticas eram pro-cíclicas, significando que amplificaram o impacto da recessão. Juntas com o câmbio fixo e sobrevalorizado, pioraram a economia. Ao decretar a moratória e desvalorizar sua moeda, a Argentina ficou livre para mudar suas políticas macroeconômicas mais importantes.
Se as autoridades europeias (a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI) continuarem a bloquear a recuperação econômica da eurozona com medidas de austeridade sem sentido, os países serão levados a considerar alternativas mais racionais para restaurar o pleno emprego. O povo da Grécia, da Espanha, de Portugal, da Irlanda e de outros países é informado todos os dias que precisa engolir o remédio amargo e que não há alternativa ao sofrimento prolongado e às altas taxas de desemprego enfrentadas. Mas a experiência argentina — a realidade, não os mitos propagados — indica que isso não é verdade. Definitivamente, existem melhores alternativas — e elas não têm nenhuma relação com a soja ou com o boom da exportação de commodities.

O Mundo segundo a Monsanto

http://youtu.be/gkQN5gopWSU

O veneno está na mesa

http://youtu.be/8-_2XTp9Z-w

Debate sobre transgênicos, com palestra de João Pedro Stedile

http://youtu.be/rQVJvsxy9OE

Montadora corta remessa de lucros à matriz


Diante de um mercado mais desafiador, com queda nas vendas e estoques crescentes na indústria e nas revendas, as montadoras instaladas no Brasil reduziram sensivelmente as remessas de lucro para suas matrizes no exterior. Até abril, a queda nos envios foi de 70% em relação a igual período de 2011, para um total de US$ 663 milhões nos quatro primeiros meses do ano.
O desempenho tem como pano de fundo a deterioração nos resultados dos fabricantes de carros, que estão pressionados pela queda de consumo e o maior esforço de venda para desovar os estoques formados nos últimos meses - uma combinação que se tornou evidente nos feirões e promoções realizados recentemente.
Paralelamente, a situação repercute a necessidade do setor em reter parcela significativa dos recursos no Brasil para fazer frente ao desenvolvimento de produtos e aos investimentos de US$ 22 bilhões previstos pela indústria automobilística no ciclo de 2011 a 2015. Completa o quadro a valorização do dólar, que diminuiu os ganhos na moeda americana.
Com o cenário mais nebuloso para o fim do ano, a opção escolhida foi reforçar o caixa no Brasil. Dados do Banco Central (BC) mostram que as remessas chegaram a ultrapassar US$ 800 milhões em agosto, mas caíram para US$ 13,5 milhões em fevereiro (veja gráfico). Os números são referentes aos envios feitos por fabricantes de veículos e implementos rodoviários usados em caminhões.
A queda registrada pelas montadoras não foi a única, mas foi a mais expressiva entre os setores da indústria que mais remetem recursos ao exterior. Em todo o ano passado - quando os resultados no Brasil ajudaram a reforçar o caixa das matrizes nos Estados Unidos e na Europa -, a indústria automobilística marcou o maior valor entre os setores acompanhados pelo BC, com a remessa recorde de US$ 5,58 bilhões.
Já em 2012, os fabricantes de veículos estão atrás da indústria de bebidas, cujas remessas somaram US$ 846 milhões até abril - um aumento de 24% em um ano.
Para o consultor Luiz Carlos Mello, que presidiu a Ford de 1987 a 1992, os números expressam o cenário mais desafiador para a indústria, marcado por margens de rentabilidade estreitadas por elevadas despesas de venda e reajustes salariais históricos. Taís fatores se somam a um investimento de capital de giro adicional, como resultado da acumulação de estoques para patamares mais altos desde a crise financeira de 2008.
"São custos que não estavam previstos para esse nível quando o orçamento foi feito", diz o analista. Por outro lado, avalia, as montadoras não podem deixar de investir pesado em mercados emergentes, como o Brasil, onde está o maior potencial de crescimento.
Com investimentos e custos em alta, os recursos disponíveis para as remessas diminuem quando se tem pela frente uma demanda que não acompanha o ritmo do ano passado, período no qual as vendas de carros bateram recorde. "O mercado claramente não evoluiu da maneira que se esperava. Foram colocados planos para um volume que não aconteceu", afirma Letícia Costa, diretora de pós-graduação do Insper e especialista na área.
O ambiente de negócios mais delicado no Brasil é refletido nos balanços divulgados no exterior pelas grandes montadoras instaladas no país. Operações na América do Sul, onde o Brasil corresponde ao principal mercado, contribuiram menos nos resultados do primeiro trimestre apresentados pela Ford e a General Motors.
No grupo Fiat - que além da marca italiana inclui a Chrysler -, as vendas no mercado brasileiro caíram 1,9% no primeiro quadrimestre, enquanto a queda nos emplacamentos de carros da Volkswagen em igual período foi de 3,9%. A Ford já adiantou que os negócios na América do Sul seguirão dando lucro neste ano, mas menos do que em 2011.
As montadoras, assim como a Anfavea - entidade que representa o setor -, preferiram não se manifestar sobre a queda na remessas de lucro.
Para Letícia, a recuperação do mercado americano pode ter reduzido as necessidades de remessas para grandes fabricantes de Detroit. Por outro lado, ela lembra que matrizes sediadas na Europa poderão precisar de recursos gerados no Brasil, dada a instabilidade economica no continente.

Negociações ficaram mais difíceis


Valor Econômico - 28/05/2012

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

Por Alessandra Saraiva, Diogo Martins, Vanessa Jurgenfeld e Marli Lima
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O ritmo de atividade está influenciando acordos salariais em diferentes categorias e regiões do país, mas a maioria consegue negociar aumentos reais após negociações mais difíceis, mesmo em setores com demanda fraca, como o automotivo. No Rio Grande do Sul a GM concedeu aos metalúrgicos de Gravataí 2,41% de aumento real, abaixo dos 3,94% de 2011.

No Rio, os trabalhadores do setor naval, revitalizado nos últimos anos graças ao "boom" no setor petrolífero brasileiro, negociaram, em fevereiro, aumentos reais entre 3% e 3,5%, segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), Severino Almeida. Para ele, a tendência positiva dos últimos anos se manterá, porque o setor já conta com grande volume de projetos encaminhados, com extensa encomenda de navios petroleiros.

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Montagem Industrial e Construção Pesada de Volta Redonda e Região obteve em março reajustes nominais de 10% para engenheiros e 20,84%, para montadores de andaime e soldadores, mas na média, o aumento salarial real deverá ser de 4,37% em 2012. No ano passado, essa média foi de 2%.

O cenário não poderia ser mais diferente no Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia e Região (Sintergia), que engloba trabalhadores de 30 empresas do setor elétrico fluminense. O Sintergia negocia com a Light, que ofereceu reposição salarial de 3,5% aos trabalhadores, abaixo da inflação do período, disse o sindicalista da entidade, Agrícola Ramos. "A proposta foi rejeitada, claro", afirmou.

Para o economista e diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Sabóia, o desaquecimento da economia tem derrubado mais os reajustes salariais de trabalhadores ligados, direta ou indiretamente, à indústria da transformação. Setores mais voltados para a demanda interna, também mostraram negociações salariais mais difíceis nos últimos anos, na avaliação de Sabóia. "Para esses, o quadro [de reajustes] é muito desfavorável."

Em Gravataí, no Rio Grande do Sul, o aumento real dos metalúrgicos da GM e dos fornecedores sistemistas da montadora foi de 2,41%, menor que os 3,94% do ano passado devido à retração do setor automotivo no início do ano. Os trabalhadores têm data-base em primeiro de abril, mas o reajuste será aplicado a partir de julho. Em compensação, o abono subiu de R$ 2 mil para R$ 2,5 mil.

Conforme um dos coordenadores do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade, Valcir Ascari, as negociações foram mais "duras" neste ano, e a recente redução do IPI veio "tarde demais" para beneficiar o acordo, fechado no início de maio com intermediação do Tribunal Regional do Trabalho.

Na avaliação do supervisor-técnico do Dieese em Santa Catarina, José Álvaro Cardoso, as negociações salariais dos primeiros meses do ano refletem um bom momento no mercado de trabalho e o fato de que algumas regiões estão com grande oferta de emprego e um número cada vez menor de pessoas sem trabalho, como é o caso de Joinville. Entre os melhores acordos catarinenses do período está o reajuste nominal de 10% (com ganho real de 5,03%) no setor plástico de Criciúma.

Carlos de Cordes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Plásticas, Químicas e Farmacêuticas de Criciúma e região, disse que não foi uma negociação fácil, e as empresas propuseram apenas o repasse da inflação na primeira negociação. A mobilização da categoria nas fábricas, diz, foi um fator fundamental para consolidar o melhor acordo em quase 30 anos do sindicato. "Não é que a economia esteja tão pujante, mas os empresários estão sentindo a falta de mão de obra qualificada e isso faz com que repensem suas atuações numa mesa de negociação", acredita Cordes.

No setor metalúrgico de Joinville, em abril, no meio das negociações, uma greve de cerca de 36 horas surpreendeu a Fundição Tupy, que concedeu aumento nominal de 8%, percentual que foi estendido para outras empresas da região, como Docol, Wetzel, Franke Douat e Schulz. Em algumas dessas companhias também ocorreram paralisações de algumas horas.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Joinville, Genivaldo Ferreira, o acordo neste ano representou um ganho real de 3,03 pontos percentuais, uma renegociação melhor do que a do ano anterior, quando a elevação foi de 1,5 ponto percentual acima da inflação.

Cid Cordeiro, economista do Dieese, explicou que "os aumentos reais dos pisos salariais das categorias no Estado têm se situado em patamares maiores que os negociados em 2011, porque o salário mínimo teve em 2012 um aumento real maior". Mas ele acrescentou que as negociações estão difíceis em função do cenário macroeconômico. "A desaceleração era esperada para o primeiro quadrimestre, mas veio com intensidade maior que a prevista e as empresas querem negociar em patamares menores que 2011 ou mantendo os mesmos índices", conta.

No primeiro bimestre, motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba fizeram greve de dois dias e o acordo salarial foi costurado pelo Ministério Público do Trabalho, que sugeriu aumento de 10,5%.


domingo, 27 de maio de 2012

ALIMENTOS ENVENENAM CRIANÇAS




Frei  Betto


      “As crianças  de todas as regiões das Américas estão sujeitas à publicidade invasiva e  implacável de alimentos de baixo ou nenhum valor nutricional, ricos em  gordura, açúcar ou sal”, constata pesquisa da Organização Pan-Americana da  Saúde (2012).
      Basta olhar em volta para  verificar que nossas crianças (com menos de 16 anos de idade) apresentam  elevada taxa de obesidade e doenças crônicas relacionadas à nutrição, como  diabetes e distúrbios cardiovasculares.
      Um dos fatores que mais influenciam  maus hábitos alimentares nesta faixa etária é a publicidade de produtos de  baixo valor nutritivo, como cereais matinais já adoçados, refrigerantes,  doces, sorvetes, salgadinhos e fast food. Eles “enchem” a barriga,  trazem sensação de saciedade sem, no entanto, suprir as necessidades  nutricionais básicas.
      Resolução da  Organização Mundial da Saúde, de maio de 2010, instou os governos a se  esforçarem por restringir a promoção e a publicidade de alimentos para  crianças.
      O mais poderoso veículo de  promoção de alimentos nocivos é a TV. Expostas excessivamente a ela, as  crianças tendem a querer consumir as marcas ali anunciadas. Em geral, a  propaganda cria vínculos emocionais entre o produto e o consumidor, e envolve  brindes, concursos e competições.
      Sob  o pretexto de atividades filantrópicas nas escolas, empresas de alimentos não  saudáveis aumentam seu poder de domesticação. Pesquisas brasileiras indicam  que assistir TV por mais de duas horas por dia influi no aumento do índice de  massa corporal em meninos.
      Relatório  de agência de pesquisa de mercado aponta que, no Brasil, na Argentina e no  México, 75% das mães com filhos de 3 a 9 anos acreditam que a publicidade  influencia os pedidos das crianças na compra de alimentos (no Brasil, 83%).
      No Reino Unido, é proibida na TV a  publicidade de alimentos não saudáveis. A Irlanda limita a presença de  celebridades nesses anúncios e exige o uso de advertências. A Espanha  desenvolveu um código autorregulatório e restringe o uso de celebridades e a  distribuição de produtos no mercado.
      Segundo relatório do Ministério da  Saúde (2008), durante um ano, no Brasil, mais de 4 mil comerciais de alimentos  foram veiculados na TV e em revistas, dos quais 72% referiam-se a alimentos  não saudáveis.
      No Brasil,  regulamentação vigente obriga colocar advertências nos comerciais de  alimentos, embora a Abia, principal associação da indústria de alimentação do  país, se recuse a fazê-lo. Ela obteve liminar garantindo a não aplicação das  novas regras e a decisão final depende agora da Justiça.
      É preciso, pois, que famílias e  escolas se dediquem à educação nutricional das crianças. Peças publicitárias  devem ser projetadas em salas de aula e debatidas. Cria-se, assim,  distanciamento crítico frente ao produto e melhor discernimento por parte dos  consumidores.
      Em São Paulo, alunos  projetaram em sala de aula propagandas gravadas em casa. Após debaterem as  peças publicitárias, decidiram adquirir determinada marca de iogurte. Remetido  o conteúdo à análise clínica, constatou-se não conferir com as indicações  contidas na embalagem. Assim, os alunos aprenderam o que significa propaganda  enganosa.
      A Organização Pan-Americana  da Saúde recomenda que sejam anunciados, sem restrição, os alimentos naturais,  aqueles nos quais não há adição de adoçantes, açúcar, sal ou gordura. São  eles: frutas, legumes, grãos integrais, laticínios sem gordura ou com baixo  teor, peixes, carnes, ovos, frutas secas, sementes e favas. No caso de  bebidas, água potável.
      Eis o dilema:  enquanto famílias e escolas querem formar cidadãos, a publicidade investe na  ampliação do consumismo. A ponto de, no Brasil, se admitir o uso de  celebridades, como atletas, na propaganda de alimentos não saudáveis e  obviamente nocivos, como bebidas alcoólicas.
      É preocupante constatar que, em nosso  país, o alcoolismo se inicia por volta dos 12 anos, e aumenta a ingestão de  vodca na faixa etária inferior a 16 anos.
      A fiscalização em bares e restaurantes  é precária, e padarias e supermercados vendem, quase sem restrição, bebidas  alcoólicas a menores de idade.
      Mas, o  que esperar de uma família ou escola que oferece na mesa e na cantina os  mesmos produtos nocivos vendidos pelo camelô da esquina?
      Essa é a crônica de graves  enfermidades anunciadas.

Frei Betto é escritor, autor de  “Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros  livros.

sábado, 26 de maio de 2012

Canto das Três Raças

http://youtu.be/jMn5alxlcsE

Frigoríficos: condições de trabalho são exigências para exportação



25/05/2012

No sul de SC, abertura de mercado para exportação de produtos de um frigorífico para a multinacional Nestlé exigiu a presença do sindicato da categoria e relatório sobre as condições de trabalho

Escrito por: Maristela Benedet - Imprensa Sintiacr

O conjunto de pressões em nível nacional e internacional no combate as condições de trabalho nas agroindústrias do país, já traz os primeiros reflexos positivos. Além das exigências rigorosas do mercado internacional no quesito dos produtos, as empresa estão começando a ver os trabalhadores com “outros olhos” e, adicionando critérios dentro das suas negociações comerciais no que se refere às relações de ambiente e condições de trabalho.  No sul de Santa Catarina, a abertura de mercado para exportação de produtos pela multinacional Nestlé (Suíça) de um frigorífico da região, produtor de cortes de aves, exigiu a presença do sindicato da categoria e relatório sobre as condições de trabalho.   

“O fato que nos trouxe satisfação, é que a luta no combate a imagem do trabalho duro e incessante, que adoece e mutila milhares de trabalhadores diariamente e, a forte pressão e mobilização em todo o país de pressão pela aprovação de uma Norma Regulamentadora (NR) para o setor, visando preservar a saúde da categoria, tiveram avanços e está mostrando seus resultados concretos e chamando atenção do mercado internacional”, relata Célio Alves Elias, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Criciúma e região (Sintiacr).

Segundo o sindicalista, entre os critérios relacionados pela auditoria contratada pela multinacional integravam a garantia do direito básico aos trabalhadores; liberdade de associação e direito as negociações coletivas respeitadas; horas trabalhadas e condições de trabalho s seguras e higiênicas; não a mão-de-obra infantil; pagamento de salários dignos e as horas de trabalho não excessivas; não permissão do Tratamento desumano e severo entre outros. A auditora coletou informações e entrevistou 32 trabalhadores sorteados.  Célio avalia que a sua participação e do presidente da Confederação, representando o Brasil em debates na América Latina no Chile e em Cuba, garantiu mais expressão a força da organização sindical dessa categoria.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (Contac), Siderlei de Oliveira, acredita que todo o trabalho e participação da Confederação nas conferências internacionais e mobilizações nacionais, repercutiram na postura de várias empresas que estão implantando o relatório social.  “A partir das exigências de padrão internacional para a exportação, no que se refere também à situação dos trabalhadores no ambiente de trabalho, eles mudaram o olhar sobre o trabalhador e começam a se ajustam a estas exigências,” pondera.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Conjuntura econômica e negociações coletivas

http://www.youtube.com/watch?v=OKjdGCzr7mI

Keen versus Krugman: capitalismo, instabilidade e crise



O debate entre Steve Keen e Paul Krugman serve para atrair a atenção sobre um fato fundamental que permanece escondido (em parte pela estupidez e cumplicidade de boa parte da comunidade acadêmica): a criação monetária não é poder privativo do banco central, mas está nas mãos dos banqueiros. A eles convém o endividamento crescente (seus lucros aumentam paralelamente). O artigo é de Alejandro Nadal.
Data: 24/05/2012
A blogosfera está repleta de referências ao debate entre Steve Keen e Paul Krugman. É um duelo apaixonante sobre o funcionamento de uma economia capitalista, a instabilidade e a crise. O primeiro pensa que, para analisar uma economia capitalista, é necessário um modelo macroeconômico que inclua os bancos e o processo de criação monetária. O segundo considera que isso é desnecessário. Qualquer um que siga de perto a polêmica mudará sua forma de pensar as relações econômicas mais fundamentais da nossa sociedade.

Keen é professor de economia da Universidade de Sydney e autor de um dos livros mais populares de crítica à teoria econômica. Krugman está na Universidade de Princeton e recebeu o Nobel de Economia. O debate tem profundas implicações para a teoria e a política econômica e é essencial, para compreender o papel do setor financeiro e a natureza da crise global. Também revela com clareza as limitações da teoria econômica convencional que os tecnocratas e ideólogos do neoliberalismo aprenderam.

A discussão começa com um ensaio de Steve Keen (disponível em ineteconomics.org) sobre a instabilidade do sistema financeiro. Um dos pontos destacáveis dessa análise é que os bancos privados podem fazer crescer a oferta monetária em resposta à demanda de fundos por parte de consumidores, empresários ou especuladores. Desta perspectiva, o investimento não é financiado por poupança, mas pela outorga de crédito pelos bancos. A oferta monetária não se decide fora do sistema econômico (por exemplo, pelo banco central), mas responde à demanda endógena de atores como empresas, consumidores ou especuladores.

Esta perspectiva já se encontra na obra de Joseph Schumpeter, um dos economistas mais importantes do século XX e mestre de Minsky. Este autor se pergunta: de onde provem os recursos para que um empresário possa instalar nova capacidade produtiva? A resposta convencional é que provem da poupança, mas Schumpeter acha que isso é insuficiente e que existe outro método que consiste na criação de poder de compra pelos bancos. Ou seja, não se trata de transferir um poder de compra previamente existente, mas de criar novo poder de compra do nada.

O dito anteriormente pode surpreender à primeira vista. Os economistas neoclássicos (Krugman não é exceção) estão convencidos de que, em uma economia capitalista, primeiro há agentes que poupam e depositam sua poupança nos bancos. Ato seguido, os bancos realizam seu trabalho de intermediação e emprestam esses recursos. Esta é a teoria dos fundos de empréstimo: em uma economia, sempre há agentes que poupam e agentes que demandam dessa poupança para investir ou consumir. Os bancos funcionam como intermediários e botam estes agentes em acordo. A taxa de juro é o preço que compatibiliza a oferta e demanda de crédito. Muita gente acredita que o mundo funciona desta maneira. Equivocam-se!

Seguindo Minsky-Schumpeter, Keen afirma que o investimento é financiado, não através de uma poupança previamente existente, mas pela expansão da oferta monetária associada à outorga de créditos a empresas, expansão que é acompanhada do aumento de endividamento. Assim, a demanda agregada, em uma economia capitalista-monetária, cresce porque existe uma forma de financiamento do gasto agregado e porque alguns agentes ou setores podem financiar seu gasto através da emissão de dívida. Esta é a teoria monetária endógena. O trabalho de Keen estaria incompleto se não tivesse uma sólida base empírica para confirmar sua perspectiva analítica.

Krugman responde (Krugman.blogs.nytimes.com) que pouco importa o que disse ou quis dizer Minsky: estamos fazendo teoria econômica, não estudos místicos. Segundo ele, quando um agente poupa e empresta sua poupança (pela intermediação de um banco), a demanda agregada permanece inalterada. A redução na demanda (devido à poupança) se compensa com o aumento da demanda derivada do emprego dos recursos emprestados. Por isso o endividamento não é importante no modelo de Krugman. Há que agregar que, em seu modelo, os mercados convergem ao equilíbrio sempre e quando não exista rigidez no ajuste de preços e fricção no ajuste de quantidade.

Steve Keen pôs Krugman em seu lugar e botou a visão neoclássica no lixo. Também assentou as bases para uma nova interpretação da crise e para repensar as respostas de política macroeconômica para enfrentá-la. Tudo isto serve para atrair a atenção sobre um fato fundamental que permanece escondido (em parte pela estupidez e cumplicidade de boa parte da comunidade acadêmica): a criação monetária não é poder privativo do banco central, mas está nas mãos dos banqueiros. A eles convém o endividamento crescente (seus lucros aumentam paralelamente). Conclusão: urge recuperar o controle social da criação monetária.

http://nadal.com.mx

Tradução: Libório Júnior

Horizonte Sombrio


Paulo Passarinho - 24/05/2012

Há pouco tempo, escrevi um artigo (No reino do curto-prazo) destacando a
dependência do governo, em seu processo de tomada de decisões, a situações
conjunturais de curto-prazo.
Esse é um dos elementos que evidenciam a total subordinação do país a
diferentes circunstâncias econômicas, sem que tenhamos um norte
estratégico definido. Vivemos, assim, a ausência de um projeto de nação
que estabeleça metas e objetivos nacionais a serem atingidos no curto,
médio e longo prazos, através de meios e instrumentos factíveis e
racionais. Algo que no passado era denominado de planejamento.

Vivemos, na verdade, a realidade de um país que navega nas ondas
circunstanciais das pressões de um mercado globalizado e cada vez mais
concentrado e altamente competitivo. O Brasil atual (com as suas
estruturas de poder) passa a ser, desse modo, um administrador de pressões
e interesses que surgem dos pólos mais dinâmicos do atual jogo global,
notadamente corporações transnacionais e financeiras.

Frente, por exemplo, à fase da crise do capital que se abre a partir de
2007/2008, e que no momento aponta para o agravamento da situação de crise
na Europa, com a possibilidade da Grécia deixar a área do euro, o governo
procura se agarrar a qualquer expediente que lhe garanta que a economia
brasileira possa ter, agora em 2012, uma taxa de crescimento um pouco
maior que o obtido em 2011.

Para tanto, Guido Mantega, o ministro da Fazenda, apresentou nesta semana
um novo pacote de incentivo ao consumo, especialmente voltado para a
indústria automotiva. Reduções na cobrança do IPI, diminuição do IOF em
operações de crédito às pessoas físicas, liberação de recursos de R$ 18
bilhões dos depósitos compulsórios do Banco Central, para “irrigar” o
crédito, e taxas de juros mais reduzidas no BNDES foram as principais
medidas anunciadas.

Um dia após esse anúncio, o próprio ministro, em depoimento no Senado,
admitiu que houve pressões das montadoras, na elaboração do pacote. Com os
seus pátios cheios de automóveis, as fábricas ameaçavam com demissões ou
férias coletivas aos seus empregados.

O governo tenta um pouco mais do mesmo. No início da crise, em 2008, o
governo apostou na demanda interna, no consumo das famílias, para garantir
taxas positivas de crescimento. Perdeu em 2009, com o resultado negativo
do PIB, mas ganhou folgadamente em 2010, um ano eleitoral e que garantiu a
eleição de Dilma à presidência.

Contudo, o quadro atual é diferenciado. Com a expansão das vendas a
crédito no país, com um custo financeiro muito elevado, por conta das
altas taxas de juros, há um endividamento acumulado bastante elevado e o
nível de inadimplência das famílias começa a preocupar. A renda real dos
trabalhadores somente se eleva nos extratos mais pobres da população,
assim como o próprio emprego. Mesmo em um contexto de redução das taxas de
juros, nota-se que os pátios das montadoras revelam que existe uma
saturação da demanda por automóveis – assim como de outros bens de consumo
duráveis – que dificilmente será de fato revertida com as medidas
anunciadas.

A alternativa de se buscar através do incremento dos investimentos uma
saída para a reversão do baixo crescimento econômico, também parece
problemática. No plano privado, as incertezas provocadas pela própria
crise não nos possibilita imaginar uma mudança no patamar de investimentos
que nos últimos anos temos observado, mesmo com o endividamento contraído
pelo Tesouro para incrementar a atuação do BNDES junto aos seus clientes
privados. Pelo lado da iniciativa direta do Estado, a ditadura fiscal do
superávit primário nos impede de qualquer esperança de uma mudança na
atual taxa de investimento do setor público.

Complicando um pouco mais o quadro em que se debate o governo, nas últimas
semanas a saída de dólares do país se intensificou. A acentuada queda nas
cotações do Ibovespa revela essa pressão de venda de ações, especialmente
por parte de investidores estrangeiros, mas também por parte de
especuladores brasileiros. A curiosidade dessa situação - que fez com que
nessa semana o dólar chegasse a ser negociado a R$2,10, obrigando o Banco
Central a vender parte de suas reservas internacionais para fazer a
cotação da moeda americana recuar – é que há muito pouco tempo a
preocupação do governo era com a excessiva valorização do Real.

Tal qual uma biruta de aeroporto, parece que a sensibilidade das
autoridades econômicas depende dos ventos de cada momento.

E essa “fuga do risco” por parte dos especuladores é certamente a maior
preocupação do governo. Nos últimos anos, nossa vulnerabilidade externa
aumentou enormemente. Além de termos deixado para trás os anos em que o
saldo comercial do país cobriu as despesas com o pagamento da nossa conta
de serviços, entre os anos de 2003 e 2007, desde 2008 temos contraído
crescentes déficits em conta corrente, cobertos pela entrada de capitais
para aplicações financeiras ou para a aquisição de ativos reais.

O professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, em recente trabalho (Governo Lula
e o nacional-desenvolvimentismo às avessas, publicado na Revista da
Sociedade Brasileira de Economia Política, de fevereiro de 2012) aponta
que o passivo externo total do Brasil (o conjunto dos compromissos do país
com os estrangeiros) evoluiu de US$ 343 bilhões, no final de 2002, para
US$ 1, 294 trilhão. Descontando-se desse passivo total os investimentos
diretos dos estrangeiros (investimentos em ativos reais: fábricas, terras,
supermercados e demais negócios produtivos), temos os dados do chamado
passivo externo financeiro (aplicações em bolsa e títulos financeiros,
incluindo títulos da dívida pública). Em 2002, o total desse passivo era
de US$ 260 bilhões e, em 2010, alcançou a cifra de US$ 916 bilhões. Esses
são passivos que rapidamente, em um momento de crise, podem conformar uma
forte pressão por liquidez, com o objetivo de serem retirados do país,
produzindo fortes pressões sobre o mercado de câmbio. Reinaldo Gonçalves
destaca que mesmo ao se levar em conta as elevadas reservas internacionais
do país – sempre lembradas como um poderoso instrumento à disposição do
governo – a situação não é confortável: em 2002, esse denominado passivo
externo financeiro líquido, era de US$ 222 bilhões; em 2010, ao final do
governo Lula, já havia atingido a US$ 628 bilhões.

Além disso, sob o ponto de vista estrutural, não há nenhum indício de uma
leve reversão que seja do quadro de desequilíbrio corrente das contas
externas. Ao contrário, e os resultados de 2011 e deste 2012 demonstram
claramente, há um crescimento cada vez mais robusto do déficit da conta de
serviços, puxado pelas remessas de lucros, dividendos e juros da dívida
externa, ao mesmo tempo em que a tendência é de uma redução do saldo
comercial do país.


http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5609