terça-feira, 7 de agosto de 2012

Graça pede paciência aos investidores



Poços secos, alavancagem e preço dos combustíveis foram os três temas que dominaram a teleconferência da Petrobras com analistas do mercado financeiro ontem e na primeira entrevista depois que a empresa anunciou prejuízo de R$ 1,346 bilhão. Em rara participação de um presidente em conferência sobre balanço trimestral, a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez questão de participar e pedir aos acionistas que acreditem nos gestores da companhia que, segundo ela, sabem o que precisa ser feito no curto, médio e longo prazos e que também têm conhecimento do negócio capaz de reverter esse resultado.
As razões que levaram à extraordinária baixa de R$ 2,7 bilhões referentes a 41 poços secos no segundo trimestre foram objeto da maioria das perguntas de analistas e jornalistas, já que se queria entender quanto disso era recorrente. Foi quando Graça Foster se saiu com uma das respostas francas que estão marcando sua gestão ao dizer que a Petrobras precisa "trabalhar seu sucesso e o insucesso exploratório". Segundo ela, a taxa de sucesso exploratório (medida pela descoberta de óleo ou gás ao perfurar poços em terra ou mar) foi de 59% em 2011.

Graça e o diretor de Exploração e Produção, José Formigli, disseram que as baixas não se repetirão no terceiro e quarto trimestres de 2012 e em 2013, a executiva garantiu que a companhia vai se esforçar para gerenciar melhor o risco exploratório de sua carteira. Até porque, Graça lembrou, a curva de produção só vai se acelerar a partir de 2014 e a companhia precisa, e vai, administrar melhor seus custos.
Formigli não deu grandes detalhes sobre quais as áreas descobertas em 2009 tiveram seus custos com poços lançados como perdas. Segundo ele, essas áreas tiveram seu período avaliação (ou Plano de Avaliação de Descobertas segundo o contrato com Agência Nacional do Petróleo) finalizado e foram devolvidas. Uma parte dos poços estavam em áreas de novas fronteiras. Sobre os que já estavam em avaliação, oito foram considerados subcomerciais, nove tiveram projetos cancelados, um teve um acidente mecânico e dois foram abandonados (jargão que se refere ao fechamento de um poço sem descoberta). Sobre as áreas que estavam em avaliação desde 2009, Formigli disse que a Petrobras chegou ao "último marco" antes de decidir se eram econômicas.
"Se ela [a área] for economicamente atraente, eu tenho que declarar a comercialidade. Se ela não for economicamente atraente, tenho que devolver. Por isso é que existem poços que dentro da regra [da ANP] foram perfurados em 2009 e ficaram esse período todo para se comprovar se eram viáveis economicamente. Infelizmente não foram", disse.
Formigli informou apenas três nomes de poços ou reservatórios que foram lançados como perda. Os dois do pré-sal da bacia de Santos foram Itaboraí (em águas rasas) e Corcovado (em área em que é associada à BG). Do total de perdas com poços, 57% foram gastos em cinco perfurações nas bacias Potiguar, Foz do Amazonas, Sergipe e Santos a um custo médio de aproximadamente R$ 300 milhões cada. Desses, o único que teve o nome informado foi Oiapoque, na Foz do Amazonas.
A impressão que ficou é que a nova administração da Petrobras levará mais em conta a economicidade das áreas exploratórias pós-descobertas, devolvendo o que ficar abaixo de determinados parâmetros de volumes (de óleo), custo e rentabilidade. A diferença em relação à gestão anterior, que tinha o geólogo Guilherme Estrella como diretor de exploração e produção é clara. O antigo diretor sempre defendeu a manutenção de projetos de baixo rendimento em mãos estatais, inclusive campos maduros em terra na Bacia do Recôncavo (BA), incompatíveis com a escala e volume de produção de uma empresa do tamanho da Petrobras.
Os indicadores de alavancagem da companhia foram outro assunto que chamou a atenção. Um dos critérios adotados pela Petrobras, o que prevê alavancagem máxima de 35% (pelo critério dívida líquida/soma da dívida líquida mais patrimônio líquido) e que está em 28%. Mas outro critério, que considera a dívida líquida dividida pelo Ebtida, já chegou a 2,46 vezes, muito próximo do limite de 2,5 vezes estipulado pela companhia.
O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, lembrou que a estatal tem captado uma média de US$ 16 bilhões por ano - foram US$ 24 bilhões em 2011 - afirmando que em 2012 já captou quase todo o necessário. O diretor não acredita que o custo das captações aumente.
Outro tema recorrente é o dos combustíveis e as perdas com a importação de gasolina e diesel vendidos mais barato no Brasil. Graça Foster lembrou os aumentos concedidos em junho e julho, informando que tem chamado a atenção sobre os preços da gasolina e do diesel nas reuniões do conselho de administração.
Quanto a novos reajustes, no que depender dela, virão. "Eu preciso sempre estar trabalhando a favor da paridade, esse é o meu papel como presidente da Petrobras", disse.
José Carlos Cosenza, diretor de Abastecimento, espera reduzir em US$ 3 bilhões os custos com importações no segundo semestre, em parte por causa da entrada de novas unidades de conversão nas refinarias, entre elas a Repar (PR). Ao comentar o prejuízo, Graça Foster negou que a disparidade de preços seja a razão principal. Segundo ela, o maior responsável foi o câmbio.

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