terça-feira, 13 de novembro de 2012

Obama vence o jogo bruto do capital

Obama vence jogo
bruto do capital
João Franzin
O movimento sindical brasileiro deu pouca importância à vitória de Barack Obama sobre o troglodita Mitt Romney. Esse distanciamento talvez tenha se dado pela dificuldade em se compreender o confuso sistema eleitoral norte-americano e pela falta de informações da mídia nacional sobre a luta real que estava sendo travada. A cobertura internacional da nossa imprensa é muito ruim. Os Estados Unidos são nosso segundo parceiro comercial e sua economia tem reflexos no mundo inteiro.
A revista CartaCapital fez melhor. Em artigo na penúltima edição, o colunista Claudio Bernabucci (antes do pleito, portanto) denunciava dois fatos graves: a ameaça de demissões em massa dos empregados pró-Obama, por um grande empresário do setor imobiliário da Flórida (o nome dele é David Siguel, dono da maior mansão dos Estados Unidos); e a advertência de outro conglomerado, da família Koch, por carta, a seus 50 mil empregados, do setor petroquímico, sobre o “risco Obama”.
Delfim Netto, na edição que está nas bancas (723), escreve artigo “A Idade Média fica para trás”, em que aponta vários fatores que colocam o democrata no campo progressista. Ele cita cinco metas do presidente reeleito, das quais destacamos duas: “criar 1 milhão de empregos na indústria, por ano, até 2016” e “humanizar as leis de imigração”. Neste quesito, aliás, o troglodita derrotado propunha “tornar tão duras as condições de trabalho e moradia dos imigrantes e seus filhos a ponto deles próprios se autodeportarem”.
Outro aspecto que demonstra um viés classista na eleição dos Estados Unidos está no financiamento dos candidatos. O republicano foi endeusado e financiado pelos chefões de Wall Street e recebeu uma chuva de dinheiro dos grandes grupos econômicos. Já Obama se valeu das contribuições individuais e, no setor empresarial, teve apoio maciço apenas do segmento mais moderno da economia, ligado à tecnologia da informação. Vale lembrar que o presidente democrata impôs multa de US$ 25 bi aos cinco bancos comprometidos com o escândalo dos empréstimos “subprime”.
Sem repercussão no sindicalismo, e ausente das análises mais à esquerda de “cientistas sociais” (aspas nossas) ou de blogueiros progressistas, está cabendo a vozes mais conservadoras, como Delfim Netto, esclarecer a real dimensão da disputa na maior potência econômica e bélica do planeta. Até Fernando Henrique, geralmente acanhado ou malicioso em seus textos, valorizou a vitória do democrata, em artigo que nosso boletim Repórter Sindical cuidou de repercutir.
Não se espera de Barack Obama grandes reformas, até porque lá o sistema joga bruto e deixa estreitíssima margem de manobra ao governante. Mas a tomada de posição do primeiro presidente negro em favor da solidariedade entre as pessoas, como ficou claro em seu discurso pós-vitória, é inequívoca: “Vi donos de empresas familiares reduzirem seus próprios rendimentos para contratar vizinhos. Vi trabalhadores aceitarem reduzir horários de trabalho para não ver o amigo perder o emprego”.
Não é um Lênin falando, claro. Mas a postura humana por parte de Barack Obama, que acena com o diálogo civilizado, reafirma a qualidade de seu caráter pessoal e de homem público. O resultado da eleição mostra que o povo norte-americano soube jogar o lixo no lixo.
João Franzin é jornalista da Agência Sindical. E-mail: joaofranzin@agenciasindical.com.br

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