segunda-feira, 1 de abril de 2013

O remédio não pode matar o paciente


                                                                                       *José Álvaro de Lima Cardoso
     A pressão inflacionária verificada especialmente no primeiro bimestre do ano, parece estar relacionada à queda na produção de alguns produtos agrícolas de alto consumo, causada por sérios problemas na agricultura, como a seca no Nordeste (a maior das últimas décadas) e à sérios desastres climáticos no Sul do País. É esperado que, com o aumento dos preços de alguns itens de elevado consumo, e com a continuidade da geração de empregos e do crescimento da massa salarial (que cresceu 6,7% em 2012, segundo as contas nacionais), que possibilita que os trabalhadores possam continuar consumindo, haja uma pressão nos preços. É claro que, num contexto desses, elevar os juros, como estão propondo alguns, não vai resolver nada, e pode piorar ainda mais a taxa de investimentos, que recuou 4% no ano passado.
     A boa notícia é que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vários alimentos devem ficar mais baratos a partir das próximas semanas. Segundo a Conab a queda será verificada com mais força no arroz, milho, batata e carnes em geral. Segundo a Companhia o clima e a perspectiva da melhor safra de grãos da história do país, estão possibilitando uma normalização da oferta desses e de outros alimentos. A safra de milho, por exemplo, essencial no consumo humano e animal, deve chegar a 76 milhões de toneladas no Brasil e os EUA podem elevar a produção para até 100 milhões de toneladas nesta colheita, recuperando-se da pior seca em quase meio século, verificada no ano passado. 
     A desoneração de uma série de produtos da cesta básica - carnes, peixes, café, açúcar, óleo de soja, manteiga e margarina, além de itens de limpeza e higiene pessoal, anunciada pelo governo através da Medida Provisória nº 609, anunciada em 08 de março, também deve colaborar neste processo de combate à inflação. É claro que não é possível fazer uma previsão segura dos efeitos que a desoneração dos tributos federais terá sobre o preço da Cesta Básica, pela multiplicidade de fatores que determinam os preços finais ao consumidor, tanto do lado da oferta, quanto da demanda ( custo de produção, o desempenho da safra, os efeitos do clima, o comércio internacional, as condições de distribuição nas cidades, etc.). Além disso, a desoneração tributária de um produto pode simplesmente não chegar ao consumidor final, caso a mesma seja convertida em elevação das margens de lucro das empresas. Evidente que, se a desoneração da Cesta Básica for repassada de forma integral aos preços, pode significar um razoável alívio no orçamento doméstico. Cálculos do DIEESE apontam potencial de redução no custo da Cesta Básica, entre 3,14% (Manaus) e 4,51% (Florianópolis).
      O certo é que, apesar do alarde feito em fevereiro e março, e da pressão feita para o Comitê de Política Monetária (Copom)  aumentar os juros básicos da economia ainda em março, outros indicadores (além do preço dos alimentos) apontam para a desaceleração da inflação. Os preços medidos no atacado, por exemplo, continuaram recuando em março, pelo terceiro mês consecutivo, indicando uma trajetória consistente de desaceleração, que deve se manter nos próximos meses. Acertaram mais uma vez, portanto, os analistas que se posicionaram contra um aumento precitado dos juros, a partir do diagnóstico de que o aumento recente dos preços no Brasil não é resultado de um excesso de demanda, mas decorrência de um problema da oferta. Aumentar os juros iria paralisar ainda mais os investimentos e não resolveria o problema de aumento de preços de alguns alimentos de elevado consumo, verificado nos últimos meses no Brasil. É o tipo de remédio que ao invés de curar pode matar o paciente.
                                                      *Economistas e técnicos do DIEESE da equipe de Santa Catarina.

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