sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Opinião: O Brasil não pode ter medo de crescer



José Álvaro de Lima Cardoso
     Uma das questões fundamentais da economia brasileira é se, com o nível de crescimento atual, o país conseguirá manter a expansão do emprego, mesmo que crescendo mais devagar, como foi em 2013. A taxa de desemprego está estabilizada em 9,0%, na média do ano, segundo o DIEESE. A taxa de desemprego de novembro, calculada pelo IBGE, recuou para 4,6%, menor taxa desde da série histórica iniciada em 2002. Em 2014, o mercado de trabalho deve seguir razoavelmente aquecido, o que afasta a hipótese de oscilações muito significativas no emprego, tanto num sentido quanto no outro, o que é fundamental para o país.
    Para o nível de geração de empregos pelo menos se manter, é fundamental a expansão do crescimento. A economia brasileira vem andando de lado nos últimos três anos, período em que o crescimento médio do PIB foi algo em torno de 2%. Tudo indica que esse cenário não se alterará significativamente em 2014. Se considerarmos o crescimento esperado para este ano (2,5%) e para 2014 (3%) a taxa de crescimento média nos quatro anos do Governo Dilma ficará em escassos 2,3%. Esse desempenho, se confirmado, não poderá ser creditado exclusivamente ao contexto internacional, pois, no período 2011 a 2013, os países emergentes cresceram à taxa de 5,3% e o mundo 3,3%. 
     É possível atribuir o baixo crescimento do Brasil a um conjunto de fatores. No entanto, sem dúvida a manutenção do Brasil na condição de pais com a maior taxa de juros do mundo, figura como um dos principais. Os juros estratosféricos inibem o consumo e valorizam o real, atraindo capital especulativo e barateando as importações, o que afeta diretamente as nossas contas externas. No começo de 2013 o Brasil praticava as menores taxas de juros da história (menos de 2% em termos reais), caminhando em direção a confluência com as taxas internacionais. Se o país persistisse nessa mudança, no médio prazo haveria expressivos benefícios para o setor produtivo, que teria custos de obtenção do capital compatíveis com os internacionais.
     Essa medida era fundamental também porque, somada à outras medidas, permitiria a redução dos preços, combatendo a inflação e estava contribuindo para elevar a competitividade da indústria brasileira. Mas a pressão do sistema financeiro e dos “rentistas” para aumentar a Selic (com o argumento falacioso de que a inflação estava “fora de controle”) foi muito grande e o governo teve que recuar em 2013. O aumento da inflação no Brasil, no primeiro semestre de 2013, não decorreu de um problema de excesso de demanda, e sim, pelo menos em boa parte, em função da valorização dos preços das commodities internacionais, especialmente as alimentares, o chamado “choque de oferta”. Elevação de juros para uma inflação que não advém de pressão de demanda, não funciona no controle da inflação e acaba funcionando como uma “bola de ferro” na economia, que impede que o crescimento deslanche. A sinalização do Banco Central é de que o ciclo de elevação dos juros se prolongue ainda nos próximos meses. Mas se o Brasil quiser crescer em 2014 tem que adotar as medidas adequadas e não temer a pressão dos “rentistas”.
Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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