domingo, 12 de outubro de 2014

Deputado Chico Vigilante envia carta ao senador Cristovam Buarque

  
do Blog do Deputado. 

Senhor Senador,
Professor Cristovam Buarque, pelo respeito que sempre tive pelo senhor,  refleti durante 72 horas após a sua decisão de apoiar Aécio Neves para a Presidência da República, sob a alegação de que  está buscando renovação e oxigenação. Aécio Neves não representa nada de novo nem de bom para o Brasil.
Me vejo na obrigação de lembrar ao senhor fatos sobre sua vida que parece ter se esquecido.
É importante que a sociedade tome conhecimento de como se deu a construção do  governador, do senador  e da liderança política Cristovam Buarque no Distrito Federal e no Brasil.
O senhor com certeza se lembra do dia em que compareci em sua casa juntamente com Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, Delúblio Soares, Sigmaringa Seixas e outros companheiros, no ano de  1990. Me lembro que naquele dia  comemos uma paella na sua casa- a primeira da minha vida. Fomos  te convidar a entrar pro PT como candidato a governador.  Sabíamos que o senhor era um brizolista histórico, o senhor disse, mas sabíamos da importância que tinha trazê-lo do meio acadêmico da universidade de Brasília para a política.
Conversamos até altas horas e D. Gladys é testemunha disso. Na ocasião, o senhor disse que não era correto entrar para o PT e já assumir como candidato mas que faria o compromisso de se filiar naquele momento e ser candidato em 1994. E assim foi. Chegamos em 1994 e tivemos que disputar uma prévia. O senhor se lembra como foi difícil, se lembra que  fui seu principal defensor na prévia, e que apesar de todas as dificuldades,  vencemos?
 Havia três candidaturas. O senhor se lembra o quanto foi atacado pelos demais candidatos? quando passou sua candidatura, o senhor se lembra do primeiro material de campanha, do  cartaz  onde o senhor ficou parecido com o Zacarias dos Trapalhões e D. Gladys disse que aquele cartaz não iria para as ruas ?
Na mesma hora garanti a ela que o cartaz seria inutilizado, e que eu iria fazer outro por minha conta. No outro dia, os pirulitos da cidade inteira amanheceram cobertos com um novo  e bonito cartaz, de Planaltina a Brazlândia e toda a Esplanada dos Ministérios. Foi o início da sua campanha. No primeiro turno quem sustentava sua campanha nas ruas ? Cinco pessoas, eu, Carlos Alberto Torres, candidato a senador, D. Gladys e o Hermes de Paula, engenheiro da Caesb. Todo dia estávamos na rua, o Hermes só depois do expediente. O senhor não acreditava que iria chegar no segundo turno, porque o Valmir Campelo, PTB, aliado de Joaquim Roriz, era aparentemente imbatível. Mas conseguimos ir para o  segundo turno e ai foi outra história, apareceu muita gente pra te apoiar e  ganhamos as eleições.
O senhor se lembra do quão difícil foi governar o Distrito Federal ?  das lutas internas do PT,  de todos que te atacavam e saíram do PT  enquanto eu saia na sua defesa ?
Mais tarde professor, o senhor se lembra de como foi difícil te sustentar com minha posição de deputado federal no  Congresso Nacional, enquanto o  senhor  e Brasília eram humilhados pelo ex-presidente Fernando Henrique ? 
O senhor se lembra do dia da discussão do aumento dos salários dos policiais civis do DF ? o ilustre ministro Nelson Jobim, da Justiça, determinou que deveria ter um diferencial de 10%, alegando que não era justo que o Brasil pagasse pra Polícia Federal  o mesmo que pagava pra Polícia Civil. Eu tive que relatar esse projeto na Comissão de Trabalho, reduzindo em 10% o salário. Aquilo só fiz porque era compromisso forçado, porque o governo federal disse que não liberava os recursos para o pagamento dos demais servidores se eu não fizesse  o que queriam.
O senhor se lembra do dia em que seu amigo, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, mandou um projeto terrível para o Congresso? Eles tinham maioria pra aprovar. Mas como queriam humilhar o PT,  disseram que tinham que ter o voto de pelo menos um deputado do  PT, e que se isso não acontecesse elas iam dificultar a sua vida e não liberar os recursos destinados ao GDF. E mais uma vez eu fui para o sacrifício. Na ocasião, fui ameaçado de ser levado pra Comissão de Ética  pelo PT, pelo que eu havia feito pra defender o sucesso do seu governo, de um governo do PT.
O senhor se lembra da questão do asfaltamento e da construção da infraestrutura do Recanto das Emas e de Samambaia durante o seu governo? Lembra que José Roberto Arruda, líder do governo FHC no Senado, agora do mesmo lado seu, segurou no Senado para que não fosse aprovada a autorização dos empréstimos para isso? Pois é, se tivesse passado e tivéssemos feito as obras nestas duas cidades, o senhor não teria perdido as eleições seguintes para  o governo.
O senhor se lembra que quando o Tribunal de Justiça lhe condenou e calou a sua boca eu como deputado federal, liderei um ato de desagravo na Câmara Federal, onde todos compareceram com uma tarja preta na boca, inclusive o senhor?
O senhor se lembra depois quando foi condenado por improbidade, há pouco tempo, pelo TJDF,  nós lhe prestamos toda a solidariedade que achávamos que o senhor merecia?
Sabe, senador, os petistas não queriam mais apoiar o senhor para senador, e na última eleição sua eu tive dificuldade de convencer até mesmo a minha família. Minha filha Leila, que te admirava tanto, o Flávio meu filho, eles não suportavam mais seus comportamentos, os ataques que o senhor faz ao PT, ao Lula e a  nossas ideias. Suas críticas  não condizem com o apoio que sempre recebeu dos dirigentes e da militância petista.
Agora professor, com a sua decisão de apoiar  Aécio Neves – que é o mesmo que apoiar Fernando Henrique e sua política neoliberal – nós que sofremos tanto no governo FHC, estamos perplexos e decepcionados.  Quando o senhor adquiriu importância, os vigilantes que fizeram toda a sua segurança de graça, o Jervalino, o Moisés, o Edmilson, estão todos envergonhados e  indignados.
O senhor se lembra da campanha em Taguatinga quando íamos lá fazer sua campanha ? quando íamos nas feiras, e o primeiro panfleto que confeccionei era eu de um lado, o Lula do outro e o senhor no meio ? e o senhor dizia pros feirantes , esse aqui é o Chico que todos conhecem,  esse aqui é o Lula que todos conhecem, e esse do meio sou eu, Cristovam Buarque.
Pois é Cristovam, fomos nós que te apresentamos a Brasília. Fomos nós que te fizemos conhecido nesta cidade. A ingratidão é a pior coisa que existe. Falo com dor no coração, o senhor, infelizmente, traiu a nossa confiança, não honrou o que tínhamos de mais importante, que era respeito e admiração.
Como fiquei honrado quando o senhor disse que ia escrever  minha biografia. Chegamos a gravar três horas, o senhor até escolheu o título, Vigilante, estrela vermelha do Brasil. Pois é professor, tudo acabou. O senhor já vinha criticando o PT há muito tempo, mas críticas fazem parte da democracia; o senhor mudou de partido, mas  isso é um direito que lhe assiste.
Declarar apoio ao tucano Aécio Neves, no entanto, muda o patamar de sua trajetória. Isso significa que, desta vez, o senhor realmente optou pela direita. Não pertence mais ao nosso grupo de ideais, não defende mais um país melhor. Sua defesa agora é a do capital, e a das elites deste país, a da grande mídia comercial familiar, que tanto te massacrou, quando nós te defendíamos. O senhor agora é, claramente,  um deles.
Siga o seu caminho que seguiremos o nosso, na trincheira de defesa dos trabalhadores.
Boa sorte professor!

Chico Vigilante

Militante do Partido dos Trabalhadores

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