*José Álvaro de Lima Cardoso
Segundo
matéria da revista Carta Capital (24.09.15) o professor Raphael
Padula, da UFRJ, em palestra no seminário “Uma estratégia para o Brasil, um
plano para a Petrobrás”, dentre várias análises importantes, lembrou que “a
geopolítica estratégica dos Estados Unidos é ameaça à soberania do Brasil sobre
o pré-sal”. Segundo o professor, entre os 10 maiores importadores de petróleo,
apenas China e Índia podem ser considerados fora do controle estratégico dos
EUA. O que garante o apoio dos países aliados às políticas estadunidenses tanto
no referente ao petróleo, quanto nas políticas econômicas mais gerais em
defesa, por exemplo, dos postulados neoliberais (para aplicação nos países
periféricos, claro). Para o professor, a estratégia dos EUA é a de impedir o
surgimento de potências regionais no setor, especialmente em áreas de
abundância de recursos naturais, como é o caso do Brasil, especialmente a
partir das descobertas do pré-sal.
A mudança na política externa brasileira
adotada a partir de 2003 (política externa mais ativa e altiva) incomoda muito
os EUA. O modelo proposto para a região é o de países com Forças Armadas
limitadas, incapazes de defender suas riquezas naturais, especialmente o petróleo.
Na sua palestra, o professor lembrou que, a partir do anúncio do pré-sal pelo
Brasil, em 2006, os EUA reativaram a 4ª Frota Naval, voltada para o Atlântico
sul e rejeitou a resolução da ONU que garantia o direito brasileiro nas 200
milhas continentais.
A proposta dos entreguistas, como se sabe, é tirar
a Petrobrás do caminho e possibilitar às multinacionais do petróleo a apropriação
dos bilionários recursos existentes no pré-sal, que podem chegar a 300 bilhões
de barris de petróleo. Tirar a exclusividade de exploração da área pela
Petrobrás, por exemplo, que está no PLC 131 de Serra, é de interesse das
petroleiras porque, dentre outras razões, é impossível controlar a “torneira”
da extração do petróleo, a 300 km da costa. Segundo os engenheiros da
Petrobrás, apenas com o “golpe da torneira”, o Brasil iria perder um sexto do
valor do recurso previsto pela regulação atual. No meio do oceano, não tem como
instalar um “hidrômetro” de petróleo que resista à fraude. A produção seria declarada
com um valor inferior ao que foi realmente extraído, o que levaria à redução da
arrecadação de royalties. A fraude geraria também um montante inferior de
lucro, o que significaria uma menor contribuição para o Fundo Social.
Esse é
o cenário de fundo da questão do petróleo no mundo, que move, por exemplo, as
tentativas de tornar a Petrobrás apenas mais uma empresa que disputaria as
áreas do pré-sal, através de leilões. Por isso é estarrecedora a fraqueza e
ambiguidade do governo e seus aliados, na defesa da Petrobrás e do pré-sal. Não
fossem a mobilização dos petroleiros e a ação de alguns valorosos parlamentares
nacionalistas, o projeto entreguista de Serra teria prosperado no Senado
Federal. Outras ameaças no parlamento permanecem, incluindo a proposta de
privatizar a Petrobrás - neste caso pronunciada com todas as letras e sem
subterfúgios - e têm que ser combatidas com muita determinação e coragem.
*Economista e supervisor técnico do
DIEESE em Santa Catarina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário